sábado, 9 de outubro de 2010

DEMA E A ARCA DE NOÉ

É assustadora a perversidade de algumas pessoas no que concerne à prática de crueldades, nos mais diversos níveis, quando exercitam a maldade de seus instintos tanto aos próprios semelhantes, quanto aos animais, nas mais estapafúrdias situações.

É, de igual modo, assustador pensar que essa índole má é característica tipicamente humana, o que nos leva a, tristemente, questionar: ser humano é ser cruel?
Todos os dias os jornais anunciam notícias de crimes contra a vida, praticados, na grande maioria dos casos, por motivos banais e, não raro, com requintes de crueldade.
Com a disseminação da desgraça chamada “crack”, mata-se muito por pouco, ao tempo em que as autoridades “competentes”, no refúgio de seus gabinetes com ar refrigerado e sofás confortáveis, ignoram solenemente a catástrofe que, todos os dias, faz vítimas em todos os segmentos sociais.
A crueldade humana não pouco nada nem ninguém. Atinge, indiscriminadamente, pessoas e animais.
Recentemente, Goiânia foi notícia nacional com o caso de uma égua abandonada, em via pública, para morrer de forma terrivelmente cruel. Sobre esse assunto, O Dr. Zacharias Calil publicou no Diário da Manhã (Edição de 02/09/2010) o artigo “Enfim, a égua foi sacrificada”, no qual diz: “A égua se encontrava maltratada e debilitada com as vísceras expostas como um metro do intestino, tamanho foi o esforço físico realizado. Ela estava sangrando e se debatendo, tendo de ser sacrificada pois não conseguiram um atendimento veterinário de urgência. O próprio profissional desabafou que em 25 anos de profissão nunca tinha presenciado um fato tão terrível como esse”.
O que leva uma pessoa, em tese, racional, a desenvolver capacidades tão nefastas? Com certeza as respostas não cabem em argumentos simplistas, mas, a indignação e o repúdio é responsabilidade de todos, de forma que, o sentimento do bem e da piedade, traduzidos, no mínimo em “denúncia”, resultem em alívio de sofrimento para uns e punições para outros.
Segundo o Artigo 32 da Lei Federal nº. 9.605/98 “È considerado crime praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, doméstico ou domesticados, nativos ou exóticos.
A Delegacia Estadual do Meio ambiente, orquestrada pelo delegado de Polícia Civil, Dr. Luziano, desencadeou durante esta semana, pós eleição, a “Operação Arca de Noé”, visando coibir casos de maus tratos a animais. O Jornalismo da TV Serra Dourada acompanhou algumas equipes da SEMA e mostrou flagrantes de cortar o coração: equinos de “catadores de materiais recicláveis”, em situação de maus tratos em face da falta de alimentação e água, sendo que alguns desses animais, feridos e doentes, são obrigados a trabalhar sem condições ou então são abandonados à própria sorte, para a morte.
O delegado da DEMA prometeu dar continuidade à operação, buscando também coibir maus tratos e abandono de cães e outros animais.
A ação da Delegacia do Meio Ambiente é obrigação, mas merece os parabéns e deve ser contínua, de tal forma que seres indefesos e submissos não padeçam sob o jugo da crueldade irracional de pessoas sem um mínimo de misericórdia.

Almáquio Bastos – Escrivão Policial Civil e Escritor – Membro da UBE-GO.

Matéria publicada no site da Polícia Civil em 09/10/2010
http://www.policiacivil.go.gov.br/artigos/publicacao.php?publicacao=61979

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

POESIA DE ALCOVA



O que é o silêncio
Senão o ecoar do surdo fremir
De asas da borboleta
Que decola após sugar suavemente a seiva
Na vulva da flor?

O que é o desejo
Senão a minha certeza
do roçar de asas da borboleta
que adorna o seu jardim secreto no vértice entre coxas?

O que é a poesia
Senão a lírica angústia
Deste poeta de alcova
Que se ocupa com a saudade do que não viveu?

05/08/2010 – 21h57m  

terça-feira, 20 de julho de 2010

SONETO EM SOL MAIOR



Acordado pelas lembranças no meio da noite,
Ouço os gonzos do desejo ranger sua agonia.
Sem piedade, pensamentos fustigam açoites
Que me fazem ansiar pelo nascer do dia.


Sei que o amanhecer me servirá no desjejum
Um réstia de sol pelo vão do telhado
E, mais tarde, o rei sol, que nos é comum,
Vestirá seu corpo nu com real manto dourado.


À nesga de sol, esparramada sobre a mesa,
Revelarei um pedido, no mínimo inusitado:
Sol, longe dorme, pomposa, minha musa.


Acorde-a com seu brilho e beijos de quem a deseja.
Mostre que esse poeta, pelo nó da distância atado,
Envia-lhe no calor da manhã sua saudade andeja.


BASTOS, Almáquio. Sob o Signo de Eros, Goiânia: 2007 p. 63

sexta-feira, 9 de julho de 2010

VARANDA DE LOUCURAS


Há um silencio de carinho

Nos corredores do mundo.
A população da terra,
Desenganada de afeto,
Espera resignada
O vídeo taipe da primavera que passou.


Ainda ontem, éramos crianças,
Brincando de construir futuro
No quintal da infância.
O tempo de amar
É escasso no ciclo dos mortais!


Por isso, em tuas mãos entrego-me,
Dispo-me de pudor
Para o ato do abraço.
Vem e faz de mim
A lúdica fantasia
Em teu alegre novelo
De sonhos impublicáveis.


Ao quedar-te embevecida,
Rompa o halo e o elo
Do medo.
Ao atar-me,
Dispa-se do pré-conceito
De amar o amor.


Abandone o sentimento
Milimetrado,
O prazer bem comportado,
Em que a vírgula
Determina o fôlego,
O gemido,
O grito.
Dispa-se inteira.
Rasgue o manual
De etiquetas em des
pe
da
ços
e livre, sirva-te de pêssegos
em minha varanda de loucuras.




Vem colher amoras maduras
Em meus galhos pejados.
Vem vestir-te de vento
No pomar deste outono
Que pode nunca mais existir.


No ciclo das estações
A única certeza é a alegria
Das borboletas
Que semeiam vida
No sexo das flores.


Vem olhar pela janela
De meus olhos o frio de afeto
Que faz lá fora de nossos corpos.
Vem mostrar-me a orquídea
Guardada entre suas coxas.


Deixa-me passear em teu jardim,
Sentir o aroma de flores exóticas
E colher frutos silvestres
Maduros de desejos.


Há um silêncio de carinho
Nos corredores do mundo!


BASTOS, Almáquio. Ciclo do nada. Goiânia:1996. p.71
Poema premiado em 2º lugar no Concurso Nacional Cidade de Mineiros – 1995.

domingo, 4 de julho de 2010

ESTÉTICA DO DESEJO


Desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo, desejo....Repito a palavra inúmeras vezes até sentir que a pronúncia soa despida de significados. Pura, tomo-a cuidadosamente nas mãos e a deixo permanecer inerte, sem cor, sem brilho, sem forma, sem sentido, presa, unicamente, a etimologia pênsil pelo fio de meu olhar que a mira como a um objeto desconhecido.



A concepção de qualquer palavra acontece primeiramente no mundo das ideias. Ali, a semente de todas pré existe. Antes de ser pensada, pronunciada ou escrita, ela pacientemente aguarda o momento da cópula metafísica, sinapse, quando signo e significante se juntam na formação do embrião que resultará na unidade mínima com som e significado e então poderá representar alguma coisa substantivamente e contentar-se, resignada, ao isolamento dicionário, o que não é pouco.


Mas, se ela se permitir a novas experiências e se acasalar com outras palavras de classes gramaticais diferentes, poderá, por exemplo, em seu acme, explodir-se em um orgasmo semântico na alcova de algum poema.


Isolada, a palavra é apenas palavra.  Desejo, por exemplo, é apenas palavra, ou seja, substantivo masculino, dicionariamente, definível e nada mais que isso. 

Mas em você meu desejo cresce. Por isso, quando olho seus olhos e vejo o que os seus não vêem, na volúpia de meus pensamentos, o paradoxo de concretiza e o mesmo desejo que me cega ilumina meus sentidos.


Isso é poesia.


Vencido, descerro as venezianas de minha mente e caminho rumo a luz da ilusão. Absorto, vejo-a nua na minha mente, não como a uma palavra, mas como a personificação do desejo que me incendeia. Vejo-a nua como a flor que, em manhã primaveril, abre suas pétalas e se entrega, sem pudor, ao beija-flor que a cortejou. Vejo-a nua como uma Ninfa que, distraidamente, povoa pensamentos sem se dar conta dos incêndios que provoca. Vejo-a nua, simplesmente nua, mulher, fêmea linda, musa que tinge de arco-íris meu imaginário.


Assim, desejo é mais que palavra.


sábado, 26 de junho de 2010

ENIGMA VERMELHO



Mergulhado em silencioso ritual de contemplação
Distancio-me de mim ao pousar meu olhar
Nos delicados contornos de seus lábios.


Quedo-me extasiado ao perceber
O que outros apenas veem
E a poesia lampeja em forma de poema,
Pois transcende o mundo real.


Entorpecidos em loucas sinapses 
Meus neurônios explodem mil ideias
Em relâmpagos coloridos
E viajo embevecido de encanto
Pela beleza dos contornos de sua boca,


Meus poemas nascem dos devaneios
Dos meus pensamentos não publicáveis.
Pensamentos que, aos borbotões,
Tornam-se sol iluminando 
Meu jardim dos desejos inconfessáveis.


Ao contemplar sua boca
Viajo em momento de pura catarse,
Este poema nasce da simples contemplação
De seus lábios carmesim,
Que ora dizem não, ora dizem sim.


E digo mais:
Esse enigma vermelho,
Lindamente desenhado,
Mesmo em silêncio
Fala a mim um milhão de palavras.

terça-feira, 15 de junho de 2010

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA POLÍCIA CIVIL DE GOIÁS



A propósito do artigo da lavra do ilustre deputado Federal Leandro Vilela, intitulado Polícia Civil de Goiás: uma das melhores do Pais, publicado neste conceituado diário, na data de 30/05/2010, faço uso deste espaço democrático para manifestar minha estranheza referente a afirmação, a meu ver, equivocada, no intróito do primeiro parágrafo, que diz: A população do estado de Goiás comemora os 17 anos de fundação da Polícia Civil...(grifo nosso), o que remeteria a sua fundação para o ano de 1993, algo tão inconcebível que acredito em erro de impressão.

Para refutar o ponto de vista destacado na matéria em questão, cumpre-me esclarecer que sou escrivão Policial Civil, o que muito me honra e, na gestão do Dr. Humberto de Jesus Teixeira, ex-Diretor-Geral da Polícia Civil de Goiás, tive o privilégio de integrar a comissão designada por força da Portaria 376/GAB, de 21 de agosto de 2003, que criou uma comissão com a incumbência de levantar dados e/ou documentos junto a Órgãos Públicos, relacionados à criação e à história da Polícia Civil do Estado de Goiás e meu ingresso se deu quando essa comissão original foi alterada pela Portaria 441/GAB/DGPC, de 08 de novembro de 2005, que incluiu três novos membros e estabeleceu prazo de conclusão dos trabalhos.

Diferentemente da maioria das polícias civis dos outros estados brasileiros, a Polícia Civil Goiana não possuía, até então, registro histórico documentado em livro, existindo tão somente na memória de pessoas que viveram a história, como o Dr. Rivadávia Xavier Nunes, ex-Secretário da Segurança Pública do Estado de Goiás (1961-1964), do Delegado de Polícia, ex-Secretário da Segurança Pública do Estado de Goiás e ex-Superintendente da Academia de Polícia, Dr. Miguel Batista de Siqueira, do Inspetor Galeno Nicodemos Braga, dentre outros, ou em documentos diversos e diários oficiais do Estado, restritos a arquivos pessoais, museus ou instituições públicas e privadas.

A comissão ora mencionada ficou, a partir de então, com a seguinte formação: Almáquio Bastos Filho, Bruno Garajau Pimenta, Edna Nascimento e Rosali Divina Siad, todos policiais civis, (vide link: histórico Polícia Civil, no site www.policiacivil.go.gov.br) e, posteriormente, recebeu o reforço do agente de policia civil e instrutor da academia, Hiroshi Gondo Lima.

Durante meses a fio, o grupo se reuniu em uma sala na sede da Academia de Polícia Civil (Gerência de Ensino Policial Civil), localizada na área contígua ao local da antiga Casa de Prisão Provisória, localizada na avenida contorno esquina com av. Independência, Setor Central, Goiânia; espaço este, gentilmente cedido pela delegada Lílian de Fátima Rosa Sena Lima, gerente de ensino policial civil, pessoa que abraçou o projeto com desvelo incomum e ofereceu aos pesquisadores toda a infra-estrutura necessária.

A equipe contou ainda com a atenção e supervisão pessoal do Dr. Humberto de Jesus Teixeira, idealizador do projeto, o qual, sempre que possível, visitava a sala de pesquisa e ouvia dos pesquisadores o relato dos avanços alcançados.

A conclusão dos trabalhos de pesquisa resultou no projeto de livro, fartamente documentado com fotos e fac-símilis de leis datadas desde a época de “Goyaz Provincia”, cujo título sugerido é o mesmo que identifica esta matéria.

Quanto à data de criação da Polícia Civil de Goiás, motivo desta matéria, é importante salientar que sua história confunde-se com a história do estado.

Os registros históricos apontam que os Bandeirantes, vindos de são Paulo, percorreram os sertões centrais do Brasil e Bartolomeu Bueno, em sua segunda expedição, por volta do ano 1715, retornava para Goiás com o título de Superintendente das Minas e João Leite Ortiz com o de Guarda-mor. Eram as primeiras autoridades, com poder de polícia, oficialmente instituídas nas minas de Goiás que pertenciam à Capitania de São Paulo.
Entretanto, no início de nossa colonização, o Brasil não conheceu uma organização policial. O poder estava nas mãos dos governantes locais, incluindo as atribuições concernentes à polícia. Sucederam-se inúmeras alterações político-sociais e finalmente com a chegada de D. João VI ao Brasil, em 1808, na qualidade de Príncipe Regente, com o Alvará de 10 de maio de 1808, foi criado a Intendência Geral de Polícia da Corte e do Estado do Brasil.
A criação da Intendência seria, então, uma referência de marco da criação da polícia civil no Brasil, o que justifica a frase POLÍCIA CIVIL: 200 ANOS A SERVIÇO DA SOCIEDADE, usada em modelos de impressos gerados em muitas delegacias de nosso estado.
Posteriormente, o surgimento do cargo de Chefe de Polícia, através da Lei Imperial de 29 de Novembro de 1832, contribuiu decisivamente para a estruturação da organização policial até que, através da Lei nº. 261, de 03 de Dezembro de 1841, criou-se a Secretaria de Polícia, um dos marcos mais importantes dentro deste processo de estruturação. Logo em seguida, em 31 de janeiro de 1842, o Regulamento nº 120 consolidaria a Lei 261, através da regulamentação e estabelecia na província uma estrutura policial que se desenhava de forma organizada em polícia administrativa e polícia judiciária.
Após análises de todas as provas documentais, os membros da comissão chegaram ao consenso de que a Lei 185 de 5 de agosto de 1898, que dispõe sobre a organização do serviço policial, é o marco da Organização da Polícia Civil do Estado de Goiás, pois esta lei confirma que permaneciam em vigor as leis nº 261, de 03 de dezembro de 1841, lei nº 2032, de 20 de setembro de 1871, os regulamentos nºs 120, de 31 de janeiro de 1842, 4.824, de 22 de novembro de 1871, dentre outras disposições legislativas e regulamentares do antigo regime, pertinentes à polícia e que não fossem contrários à lei em questão.
Esta vertente contabiliza à Polícia Civil de Goiás o total de 112 anos e fundação. Importante abrir parênteses e esclarecer que este marco de organização é diferente do marco de origem. É inegável que a Polícia Civil estava historicamente presente nas estruturas anteriores, no entanto, essa nova organização, que é um referencial, marcou o surgimento de uma estrutura que, apesar de não utilizar ainda a denominação “Polícia Civil”, passou a representar a Instituição de forma mais evidente. Durante todo o processo de mudanças, a Polícia Civil de Goiás alterou seu organograma muitas vezes e passou por várias reestruturações até atingir o perfil que hoje se conhece.
Comungo com o deputado Federal Leandro Vilela quando afirma que “A Policia Civil é instituição que muito orgulha a todos pelos relevantes serviços prestados em favor da Segurança Pública” e anseio pelo momento que, vencidos os entraves técnicos e as dificuldades naturais de publicação, não obstante a boa vontade do Delegado-Geral de Polícia Civil, Dr. Aredes Correia Pires, a pesquisa venha a lume em forma de livro e preencha a inquestionável lacuna existente no que tange a divulgação de uma história de tamanha importância.

Matéria publicada no Jornal Diário da Manhã - Edição nº 8249 de 12/06/2010
http://www.dmdigital.com.br/index.php?edicao=8249

sábado, 29 de maio de 2010

De quantos orgasmos uma mulher precisa?

Depende. Existe aquele momento em que a mulher está com o desejo de sentir um orgasmo e, quando o alcança, experimenta uma das mais sublimes sensações da vida.
Isso pode fazê-la sentir-se desejada, amada e com sua feminilidade contemplada no mais alto grau. Existem outros momentos em que a mulher não está nem um pouco a fim de ter um orgasmo, ainda que esteja disposta para o sexo. Mesmo assim, de igual modo, poderá experimentar e sentir o prazer na sua plenitude. Não é uma questão de desempenho. Trata-se muito mais de relacionamento a dois. Nestes dias a mulher irá compartilhar do desejo e do prazer de seu parceiro, e o fato de ser desejada, tocada, possuída é tudo que ela precisa.
Algumas mulheres, por sua vez, são capazes de ter múltiplos orgasmos e poderão viver nessa experiência uma avalanche de sensações e sentimentos, se sentido completas, arrebatadas. Para estas, vale a orientação de tirarem proveito e não pensarem que o dia em que não tiverem vários orgasmos o sexo terá sido de menor qualidade. È melhor fazer a opção de um orgasmo bem vivido ao invés de insistir sempre na quantidade.
O que pode acontecer é tornar-se refém, como se em todas as relações o prazer estivesse centrado na tarefa de alcançar vários orgasmos. A mulher é inteiramente responsável por seus orgasmos e deverá orientar seu parceiro sobre como levá-la ao máximo prazer.
Um comportamento que pode limitar o prazer é a preocupação de se ter orgasmos simultâneos, como se isso fosse um padrão de desempenho sexual. Qualquer tipo de pressão nesta hora limita o prazer.
Para os homens a grande dica é: “Primeiro as damas.”.


Mitos e Verdades
Mito: Se um homem ama uma mulher, ele saberá exatamente o que fazer para dar a ela o máximo prazer sexual.
Verdade: A mulher é responsável pelo seu próprio prazer e deverá orientar seu parceiro sobre o que fazer, como fazer e quando fazer para que ela alcance a plenitude sexual.

Ailton Bastos, psicanalista
Folha de Londrina, quinta-feira, 10 de julho de 2008.

Coluna Sexo & Comportamento

http://ailtonbastos.com.br/?p=180

segunda-feira, 19 de abril de 2010

SONIANDO COM SÔNIA

Soniando, livro de crônicas da escritora Sonia Ferreira, um dos lançamentos da Coleção Prosa e Verso, é uma deliciosa provocação instigada a partir do título.
A ação contínua sugerida pelo gerúndio e a musicalidade emanada dessa sugestão, aspectos bem pontuados no prefacio por Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado, meu professor por curto período, mas salutar, na Faculdade de Letras da UFG, evocam com beleza e criatividade a idéia de viagem/sonho tanto em sentido literal quanto poético, como se vê já de início em A poesia e o trem de ferro, crônica que sinaliza aos que não viram nem viveram a realidade da “Maria Fumaça”, hoje apenas um memorial decrépito, mas que outrora, “estrada de ferro” afora, fez história no sertão e Goiás.
Bento, falando de Sônia no contexto sugerido pelo título do livro, diz: Sônia Ferreira não é mais Sônia, como um prolongamento de sua alegria e de sua contagiante energia e entusiasmo pela vida. Ela se torna ação que se alonga e que ainda é continuada. Deixa de ser nome e se torna uma forma nominal, um gerúndio importante, a nos lembrar que o mundo não é, mas estará sendo.
Destarte, Soniar nesse “trem” poético é usufruir dos privilégios de um passaporte que dá direito a visitar Brasília com cheiro e gosto de quintal, cidade que nem de longe lembra Arruda ou qualquer erva daninha dos dias atuais; é sentar-se sob a sombra da Moreira da Rua 24 e ouvir suas histórias e revelações de uma Goiânia que já dista no calendário e que hoje nos atropela; é assistir na Academia Goiana de Letras a posse do acadêmico Emílio Vieira das Neves, “estrela de Março, ano 2009”; é cumprimentar Bariani Hortêncio, cuja casa e vida, é um centro de cultura, aberto a todas as gerações de pesquisadores e produtores culturais de diversos cantos do Brasil e do mundo; é desvendar os “segredos do Bairro Popular de Goiânia” e, entre uma parada e outra, perceber que de alguma forma, todos nós, seja pelo que vimos ou vivemos, temos um centro cultural em nós ou em nossa casa.
A beleza nos textos de Sonia é mostra de que o artista, qualquer que seja sua área, precisa estar “antenado” com o que se acontece a sua volta ou ao alcance de seu conhecimento.
A sensibilidade artística é fundamental para que “as coisas” que passam despercebidas da maioria das pessoas sejam captadas pelo artista, o qual se incube de transformá-las em matéria-arte, seja ela de denúncia, encantamento ou simplesmente revelação. E isso ocorre em vários momentos do livro, dentre os quais cito a crônica Dentro dos Olhos Verdes de Ivana. Neste texto, Sônia é capaz de revelar a dor de se ter um ente querido internado na UTI de um Hospital e ao mesmo tempo, no mesmo recado, salientar a importância terapêutica da música, seja ela extraída de um piano instalado dentro dessa mesma casa de saúde ou do canto dos pássaros que vivem ali ao lado, no Bosque Areião, de onde, Ao nascer e ao por do sol, [...] em sinfonia tentam suavizar o silêncio das dores, escondidas numa grande caixa misteriosa, ao lado do parque. Cantam às janelas de um hospital, onde homens e mulheres de branco são cuidadores da vida e reverenciam a dignidade humana: Hospital Lúcio Rebelo. Em um de seus espaços interiores, há um piano, à espera de chuviscar notas musicais na sensibilidade dos pacientes, que possam se locomover até o pianista. (p. 79)
Assim é Sonia, sensibilidade e compromisso na tessitura de sua sinfonia com as palavras, trazendo à tona, lembranças para uns, informações para outros. Mais que isso não digo. Quem quiser saber mais, que vá Soniando.




Ferreira, Sônia. Soniando – Goiânia:Kelps, 2009.

sábado, 10 de abril de 2010

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Da janela virtual de minha casa, em Aparecida de Goiânia, para a Quinta Avenida, Nova York


Da janela virtual de minha casa, em Aparecida de Goiânia, assisti, no último dia 03 de abril, sábado, ao mais recente lançamento da Apple, isto é, o lançamento do pré-anunciado iPAD que, de forma simplista pode ser definido como um tablet desenhado para navegar na rede, reproduzir jogos e vídeos além de ler livros digitais.



Primeiramente eu não sabia o que era aquilo – iPAD – já que os conhecidos iPOD e iPHONE ainda cheiravam a novo em meu vocabulário. Entretanto, todos os sites e blogs voltados para área de tecnologia anunciavam que desde o dia 30/03, isto é, quase uma semana antes, já se iniciava o alvoroço em torno do anúncio da novidade e não tardou a formação de filas de pessoas em frente a Apple Retail Store da Fifth Avenue, em Nova York. E olhe só, o mesmo cara, Greg Packer, que em 2007 ficou três dias plantado em frente a loja só pra ser o primeirinho da fila a por as mãos no Iphone, lançamento da época, repetiu a dose e conseguiu o feito de ser o primeiro no mundo a comprar o seu iPad.


Assim, na sexta feira, dia 02, véspera do lançamento, a fila já era enorme e os “aficionados” levaram cadeiras e notebooks para passar o tempo até que chegasse as 09:00h de sábado, horário marcado e divulgado para o lançamento, ocorrido exclusivamente nos Estados Unidos.


Daqui de minha janela, vendo aquele burburinho, fiquei pensando nas semelhanças. Cá nos meus brasis, também tem esse negócio de ser “aficionado” por alguma coisa e fazer fila para se conseguir ser o “primeirinho”, ou, na maioria dos casos, pelo menos ser um dos vencedores.


Veja bem, basta pipocar o anúncio de alguma ação comunitária, na qual se divulgue serviços jurídicos, médicos ou sociais gratuitos e um bando de “aficionados” formam longas filas no intuito de lograr êxito em se conseguir o que, em tese, deveria ser facultado, sem dificuldade, a todos os cidadãos, trabalhadores, pagadores de impostos. Fora dos mutirões movidos a holofotes também é fácil de se ver “aficionados” em consultas médicas, sobretudo com especialistas. Basta uma passadinha nas “casas de saúde” públicas, para se ver longas filas de pessoas ávidas por conseguir uma senha de atendimento médico. E esse privilégio de esperar sem direito a desesperar não está mais restrito aos pacientes que dependem exclusivamente do SUS, pois os segurados do IPASGO já figuram em listas de espera para se conseguir procedimentos, até então, considerados simples.


Para os que acham que a estratégia de marketing da Apple é sucesso mundial, o que diriam ao verem a fila de “aficionados” que se forma em frente ao Restaurante Cidadão da avenida Goiás no horário de almoço; ali todos estão interessados não em ser o “primeirinho”, mas, pelo menos em conseguir um lugarzinho dentre aqueles que não irão trabalhar o resto do dia de barriga vazia. Aí Pode!?

terça-feira, 9 de março de 2010

SÓ UM LEMBRETE DO QUINTANA







'A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo: Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.'

Mário Quintana

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O BEM ESTAR VEM DO HÁBITO



“De Médico e louco todo mundo tem um pouco”. Quando o assunto é saúde esse é um ditado popular que se ajusta à realidade da maioria das pessoas, inclusive eu. Saber o que se deve fazer para se ter o tão desejado “bem estar” é o lado de médico e não fazer é o lado da insanidade.
Nessa questão, definitivamente, não sou bom exemplo. Aos cinquenta anos e sedentário, minhas palavras ecoam no vazio, por isso não dou conselhos. Mas como divulgar saberes não é aconselhar, repasso o seguinte:
Prevenção. A palavra que fez a melhor parceria com a medicina nos últimos anos será a chave para ter saúde na próxima da década. As novas tecnologias de diagnóstico, desde que acompanhadas de mudanças de hábito, poderão salvar mis vidas que qualquer medicamento a ser descoberto. [...] Com prevenção, pode-se até não adicionar anos à vida, mas sim mais vida aos anos”, diz Haino Bumrmester, vice presidente da Associação Brsileira de Medicina Preventiva.
De acordo com um estudo feito no ano passado pelo Ministério da Saúde, a prevenção ainda não faz parte da vida do brasileiro. A maioria diz desconhecer a relação entre seus hábitos e as doenças mais comuns. Mesmo quem sabe dos riscos não costuma seguir o Manuel da vida saudável, com três instruções básicas: comer menos gordura e mais fibras, não fumar e praticar alguma atividade física. São as prevenções primárias, que por si sós reduzem significativamente o risco de desenvolver câncer e as doenças coronarianas – que vão continuar fazendo vítimas e massa na próxima década. [...] (Marta Mendonça, Época Especial, Nº 607, 04/01/2010 p. 46

Bem, como todo inicio de ano é época de propósitos, fica aqui registrado minha sincera intenção de escrever uma página diferente nesse assunto. Para o meu bem.

O CLAMOR DO SEXO* (O desejo pode ser uma fonte de alegria ou um peso intolerável)

Ivan Martins

Outro dia eu estava num show do Nando Reis, no Rio de Janeiro, e me percebi completamente hipnotizado por uma das cantoras da banda. Ela era baixinha, tinha pernas grossas e dançava como se o mundo fosse acabar. Assim que bati os olhos nela saí da mesa e arrumei um lugar embaixo do palco, em pé. A música rolava, as pessoas pulavam, mas eu não via mais nada que não fossem os cabelos crespos e o rosto redondo da moça. Uma viagem.
A perda parcial dos sentidos durou vários minutos, mas em algum momento a ficha caiu: eu estava bêbado, os amigos já tinham ido embora e a situação era ridícula. Tinha chegado a hora (passava da hora, aliás) de pegar minhas coisas e bater em retirada. Foi o que eu fiz.
Conto essa história irrelevante por uma única razão: ela fala sobre desejo. Ela lembra a existência de uma força antiga e poderosa com a qual nós todos, homens e mulheres, temos de lidar diariamente. Virar as costas para uma artista de minissaia que rebola no palco exige apenas bom senso. Em outras situações, domar o próprio desejo pode ser mais difícil.
Todos sabem, por experiência própria, que o sexo está presente em várias dimensões da nossa vida. Ele se infiltra nas relações de trabalho, constrói e destrói amizades, alimenta nossa sociabilidade e permeia - olha o Nelson Rodrigues - até as relações de família: quem já não teve a cunhada mais linda do mundo?
É difícil falar com propriedade sobre o comportamento das mulheres, mas na cultura dos homens brasileiros o sexo está por toda a parte, como o ar.
Os homens falam sobre isso, riem disso e (suponho que) pensam nisso obsessivamente. Há exceções, mas a regra é uma exibição mais ou menos orgulhosa da própria libido, com detalhes que variam com o bom gosto de quem fala e com o entusiasmo da audiência. Nesse assunto, aliás, o silêncio não é necessariamente sinal de sanidade. Já fui surpreendido por tipos que abrem a boca uma vez por ano para se revelarem tarados de hospício.
Qualquer que seja o estilo ou a personalidade do sujeito, a libido está lá. Ela pode virar piada, cantada ou ser reprimida na forma de trabalho, poesia ou silêncio. Mas a minha impressão é que se trata de um motorzinho que fica vibrando logo abaixo da nossa consciência, permanentemente. É uma fonte de energia e de alegria. Ou um peso desgraçado, a depender das circunstâncias.
Aprender a lidar com a pulsão do desejo é trabalho para a vida inteira. A meta - me parece - é encontrar o equilíbrio (precário) entre a enormidade do que se quer e a frugalidade do que é existencialmente possível. E não se trata de uma questão moral. Viver em sociedade exige reprimir impulsos. Ou enlouquecer. É um problema de ordem prática.
Você, leitor, não pode dizer tudo que passa pela sua cabeça quando a moça da recepção se inclina sobre o balcão. É tanto uma questão de educação quanto de sobrevivência social. E você, leitora, seria imprudente se revelasse em voz alta as fantasias sexuais inspiradas pelo jovem motoqueiro do escritório com cara de mau. Freud disse que sem repressão não há civilização. Ele obviamente não falava apenas de sexo, mas a frase ainda se aplica.
Minha geração acreditava ser possível acabar com a repressão. Todo mundo lia Wilhelm Reich e todo mundo achava que o capitalismo havia nos encarcerado em armaduras musculares (e morais) que impediam a nossa felicidade. O nosso orgasmo, mais precisamente. Era preciso derrubar as cercas mentais e fazer a revolução dos costumes. Junto com a revolução socialista, de preferência. Reich ficaria surpreso se visse tudo que aconteceu desde a sua morte, em 1957.
A revolução sexual foi tão bem sucedida quanto o rock and roll, mas disso não surgiu um "novo homem". Tampouco foram abolidos os limites que cerceiam a sexualidade e o comportamento. Embora existam minorias que vivem em grande liberdade, para a vasta maioria a revolução sexual apenas alargou a fronteira do possível. Os adolescentes de hoje fazem coisas que eu não podia (dormir com as garotas na casa delas, por exemplo), mas continuam submetidos a restrições sociais. É tarefa de cada geração empurrar a cerca um pouco mais para lá. Quanto maior o espaço, menor a infelicidade.
A propósito disso, tenho um amigo que viajou à Sibéria, na Rússia, e foi recebido na estação de trem por uma mulher que ele não conhecia. Linda. Era amiga de umas pessoas que ele havia conhecido dias antes, em Moscou. Ela o levou para a casa e, sem muitos preâmbulos, terminaram na cama. A moça era casada, mas isso, aparentemente, não constituía um problema. Fidelidade parece ser lá uma exigência menor do que é aqui. Provavelmente tem relação com religião (ou a ausência dela) e ideologia. De qualquer forma, o espaço para a libido é maior quando as pessoas não se importam tanto com o que fazem os parceiros. Questão de arranjos sociais.
Acabo de ler um livro sobre o festival de Woodstock (Aconteceu em Woodstock, de Elliot Tiber), sobre o festival de rock que ocorreu nas proximidades de Nova York em 1969. Movidas a drogas, música e ideologia hippie de paz e amor, as pessoas organizaram uma espécie de Sodoma e Gomorra a céu aberto. Sexo livre, sexo grupal, sexo homossexual, sexo tântrico, sexo público, sexo, sexo, sexo. Isso faz 40 anos e parece que ninguém saiu ferido. Quanto mais espaço para o desejo, menos conflito.
O que jamais será abolido, eu suponho, é o limite do outro: se ele não quer, o que se pode fazer? É difícil imaginar um mundo em que todo desejo seja correspondido. Ou que o ato de entregar-se seja tão banal que as pessoas possam praticá-lo sem restrições, por gentileza, como quem dá um tapinha nas costas.
Imagino que sempre vá existir um mercado do desejo em que algumas pessoas serão muito procuradas (por belas e sensuais ou poderosas) e outras estarão oferecendo sua atenção a um número bem menor de interessados. É injusto, mas é assim. O desejo é um sonho incansável que mora dentro de nós. O outro nos dá o limite da realidade.
No ano passado, no País Basco, eu conheci uma enfermeira de UTI. Ela tinha 50 anos e cuidava de pacientes terminais há duas décadas. De todas as coisas que ela me contou sobre o seu trabalho, me lembro especialmente de uma delas: mesmo os homens velhos e doentes ainda eram capazes de bulinar, com as palavras e com as mãos.
A enfermeira me disse que ria com gentileza das cantadas dos velhinhos e contava até três quando um deles punha a mão na bunda dela. Encenava um jogo de sedução que dava aos anciãos encurralados um pouco de alegria e esperança. Ela acreditava que lidar com o desejo dos pacientes, assim como lidar com as suas dores, era parte do seu trabalho. "O tesão só termina com a morte", ela me disse. Eu acredito.





*Clamor do Sexo é o título de um filme de 1961 que precisa ser visto. Ele mostra como era o tempo em que os jovens estavam proibidos de dar vazão aos seus impulsos sexuais. Assista.

Ivan Martins escreve às quartas-feiras http://revistaepoca.globo.com

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

LEIA TRECHO DE "CAIM", DE JOSÉ SARAMAGO.







Leia a seguir trecho do primeiro capítulo de "Caim", mais recente livro do escritor português José Saramago, publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras.






Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a adão e eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta, quando os outros animais, produtos, todos eles, tal como os dois humanos, do faça-se divino, uns por meio de mugidos e rugidos, outros por roncos, chilreios, assobios e cacarejos, desfrutavam já de voz própria. Num acesso de ira, surpreendente em quem tudo poderia ter solucionado com outro rápido fiat, correu para o casal e, um após outro, sem contemplações, sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo. Dos escritos em que, ao longo dos tempos, vieram sendo consignados um pouco ao acaso os acontecimentos destas remotas épocas, quer de possível certificação canónica futura ou fruto de imaginações apócrifas e irremediavelmente heréticas, não se aclara a dúvida sobre que língua terá sido aquela, se o músculo flexível e húmido que se mexe e remexe na cavidade bucal e às vezes fora dela, ou a fala, também chamada idioma, de que o senhor lamentavelmente se havia esquecido e que ignoramos qual fosse, uma vez que dela não ficou o menor vestígio, nem ao menos um coração gravado na casca de uma árvore com uma legenda sentimental, qualquer coisa no género amo-te, eva. Como uma coisa, em princípio, não deveria ir sem a outra, é provável que um outro objectivo do violento empurrão dado pelo senhor às mudas línguas dos seus rebentos fosse pô-las em contacto com os mais profundos interiores do ser corporal, as chamadas incomodidades do ser, para que, no porvir, já com algum conhecimento de causa, pudessem falar da sua escura e labiríntica confusão a cuja janela, a boca, já começavam elas a assomar. Tudo pode ser. Evidentemente, por um escrúpulo de bom artífice que só lhe ficava bem, além de compensar com a devida humildade a anterior negligência, o senhor quis comprovar que o seu erro havia sido corrigido, e assim perguntou a adão, Tu, como te chamas, e o homem respondeu, Sou adão, teu primogénito, senhor. Depois, o criador virou-se para a mulher, E tu, como te chamas tu, Sou eva, senhor, a primeira dama, respondeu ela desnecessariamente, uma vez que não havia outra. Deu-se o senhor por satisfeito, despediu-se com um paternal Até logo, e foi à sua vida. Então, pela primeira vez, adão disse para eva, Vamos para a cama.
Set, o filho terceiro da família, só virá ao mundo cento e trinta anos depois, não porque a gravidez materna precisasse de tanto tempo para rematar a fabricação de um novo descendente, mas porque as gónadas do pai e da mãe, os testículos e o útero respectivamente, haviam tardado mais de um século a amadurecer e a desenvolver suficiente potência generativa. Há que dizer aos apressados que o fiat foi uma vez e nunca mais, que um homem e uma mulher não são máquinas de encher chouriços, as hormonas são coisa muito complicada, não se produzem assim do pé para a mão, não se encontram nas farmácias nem nos supermercados, há que dar tempo ao tempo. Antes de set tinham vindo ao mundo, com escassa diferença de tempo entre eles, primeiro caim edepois abel. O que não pode ser deixado sem imediata referência é o profundo aborrecimento que foram tantos anos sem vizinhos, sem distracções, sem uma criança gatinhando entre a cozinha e o salão, sem outras visitas que as do senhor, e mesmo essas pouquíssimas e breves, espaçadas por longos períodos de ausência, dez, quinze, vinte, cinquenta anos, imaginamos que pouco haverá faltado para que os solitários ocupantes do paraíso terrestre se vissem a si mesmos como uns pobres órfãos abandonados na floresta do universo, ainda que não tivessem sido capazes de explicar o que fosse isso de órfãos e abandonos. É verdade que dia sim, dia não, e este não com altíssima frequência também sim, adão dizia a eva, Vamos para a cama, mas a rotina conjugal, agravada, no caso destes dois, pela nula variedade nas posturas por falta de experiência, já então se demonstrou tão destrutiva como uma invasão de carunchos a roer a trave da casa. Por fora, salvo alguns pozinhos que vão escorrendo aqui e ali de minúsculos orifícios, o atentado mal se percebe, mas lá por dentro a procissão é outra, não tardará muito que venha por aí abaixo o que tão firme havia parecido. Em situações como esta, há quem defenda que o nascimento de um filho pode ter efeitos reanimadores, senão da libido, que é obra de químicas muito mais complexas que aprender a mudar uma fralda, ao menos dos sentimentos, o que, reconheça-se, já não é pequeno ganho. Quanto ao senhor e às suas esporádicas visitas, a primeira foi para ver se adão e eva haviam tido problemas com a instalação doméstica, a segunda para saber se tinham beneficiado alguma coisa da experiência da vida campestre e a terceira para avisar que tão cedo não esperava voltar, pois tinha de fazer a ronda pelos outros paraísos existentes no espaço celeste. De facto, só viria a aparecer muito mais tarde, em data de que não ficou registo, para expulsar o infeliz casal do jardim do éden pelo crime nefando de terem comido do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Este episódio, que deu origem à primeira definição de um até aí ignorado pecado original, nunca ficou bem explicado. Em primeiro lugar, mesmo a inteligência mais rudimentar não teria qualquer dificuldade em compreender que estar informado sempre será preferívela desconhecer, mormente em matérias tão delicadas como são estas do bem e do mal, nas quais qualquer um se arrisca, sem dar por isso, a uma condenação eterna num inferno que então ainda estava por inventar. Em segundo lugar, brada aos céus a imprevidência do senhor, que se realmente não queria que lhe comessem do tal fruto, remédio fácil teria, bastaria não ter plantado a árvore, ou ir pô-la noutro sítio, ou rodeá-la por uma cerca de arame farpado. E, em terceiro lugar, não foi por terem desobedecido à ordem de deus que adão e eva descobriram que estavam nus. Nuzinhos, em pelota estreme, já eles andavam quando iam para a cama, e se o senhor nunca havia reparado em tão evidente falta de pudor, a culpa era da sua cegueira de progenitor, a tal, pelos vistos incurável, que nos impede de ver que os nossos filhos, no fim de contas, são tão bons ou tão maus como os demais.
Ponto de ordem à mesa. Antes de prosseguirmos com esta instrutiva e definitiva história de caim a que, com nunca visto atrevimento, metemos ombros, talvez seja aconselhável, para que o leitor não se veja confundido por segunda vez com anacrónicos pesos e medidas, introduzir algum critério na cronologia dos acontecimentos. Assim faremos, pois, começando por esclarecer alguma maliciosa dúvida por aí levantada sobre se adão ainda seria competente para fazer um filho aos cento e trinta anos de idade. À primeira vista, não, se nos ativermos apenas aos índices de fertilidade dos tempos modernos, mas esses cento e trinta anos, naquela infância do mundo, pouco mais teriam representado que uma simples e vigorosa adolescência que até o mais precoce dos casanovas desejaria para si. Além disso, convém lembrar que adão viveu até aos novecentos e trinta anos, pouco lhe faltando, portanto, para morrer afogado no dilúvio universal, pois finou-se em dias da vida de lamec, o pai de noé, futuro construtor da arca. Logo, teve tempo e vagar para fazer os filhos que fez e muitos mais se estivesse para aí virado. Como já dissemos, o segundo, o que viria depois de caim, foi abel, um moço aloirado, de boa figura, que, depois de ter sido objecto das melhores provas de estima do senhor, acabou da pior forma. Ao terceiro, como também ficou dito, chamaram-lhe set, mas esse não entrará na narrativa que vamos compondo passo a passo com melindres de historiador, por isso aqui o deixamos, só um nome e nada mais. Há quem afirme que foi na cabeça dele que nasceu a ideia de criar uma religião, mas desses delicados assuntos já nos ocupámos avonde no passado, com recriminável ligeireza na opinião de alguns peritos, e em termos que muito provavelmente só virão a prejudicar-nos nas alegações do juízo final quando, quer por excesso quer por defeito, todas as almas forem condenadas. Agora somente nos interessa a família de que o papá adão é cabeça, e que má cabeça foi ela, pois não vemos como chamar-lhe doutra maneira, já que bastou trazer-lhe a mulher o proibido fruto do conhecimento do bem e do mal para que o inconsequente primeiro dos patriarcas, depois de se fazer rogado, em verdade mais por comprazer consigo mesmo que por real convicção, se tivesse engasgado com ele, deixando-nos a nós, homens, para sempre marcados por esse irritante pedaço de maçã que não sobe nem desce. Também não falta quem diga que se adão não chegou a engolir de todo o fruto fatal foi porque o senhor lhes apareceu de repente a querer saber o que se tinha passado ali. Já agora, e antes que se nos esqueça de vez ou o prosseguimento do relato venha a tornar inadequada, por tardia, a referência, revelaremos a visita sigilosa, meio clandestina, que o senhor fez ao jardim do éden numa cálida noite de verão. Como de costume, adão e eva dormiam nus, um ao lado do outro, sem tocar-se, imagem edificante mas enganadora da mais perfeita das inocências. Não despertaram eles e o senhor não os despertou. O que ali o tinha levado fora o propósito de emendar uma imperfeição de fabrico que, finalmente o percebera, desfeava seriamente as suas criaturas, e que era, imagine-se, a falta de um umbigo. A superfície esbranquiçada da pele dos seus bebés, que o suave sol do paraíso não conseguira tostar, mostrava-se demasiado nua, demasiado oferecida, de certo modo obscena, se a palavra já existisse então. Sem detença, não fossem eles acordar, deus estendeu o braço e, levemente, premiu com a ponta do dedo indicador o ventre de adão, logo fez um rápido movimento de rotação e o umbigo apareceu. A mesma operação, praticada a seguir em eva, deu resultados similares, ainda que com a importante diferença de o umbigo dela ter saído bastante melhorado no que toca a desenho, contornos e delicadeza de pregas. Foi esta a última vez que o senhor olhou uma obra sua e achou que estava bem.
Cinquenta anos e um dia depois desta afortunada intervenção cirúrgica com a qual se iniciaria uma nova era na estética do corpo humano sob o lema consensual de que tudo nele é melhorável, deu-se a catástrofe. Anunciado por um estrondo de trovão, o senhor fez-se presente. Vinha trajado de maneira diferente da habitual, segundo aquilo que seria, talvez, a nova moda imperial do céu, com uma coroa tripla na cabeça e empunhando o ceptro como um cacete. Eu sou o senhor, gritou, eu sou aquele que é. O jardim do éden caiu em silêncio mortal, não se ouvia nem o zumbido de uma vespa, nem o ladrar de um cão, nem um pio de ave, nem um bramido de elefante. Apenas uma bandada de estorninhos que se havia acomodado numa oliveira frondosa que vinha dos tempos da fundação do jardim levantou voo num só impulso, e eram centenas, para não dizer milhares, que quase obscureceram o céu. Quem desobedeceu às minhas ordens, quem foi pelo fruto da minha árvore, perguntou deus, dirigindo directamente a adão um olhar coruscante, palavra desusada mas expressiva como as que mais o forem. Desesperado, o pobre homem tentou, sem resultado, tragar o bocado de maçã que o delatava, mas a voz não lhe saiu, nem para trás nem para diante. Responde, tornou a voz colérica do senhor, ao mesmo tempo que brandia ameaçadoramente o ceptro. Fazendo das tripas coração, consciente do feio que era pôr as culpas em outrem, adão disse, A mulher que tu me deste paraviver comigo é que me deu do fruto dessa árvore e eu comi. Revolveu-se o senhor contra a mulher e perguntou, Que fizeste tu, desgraçada, e ela respondeu, A serpente enganou-me e eu comi, Falsa, mentirosa, não há serpentes no paraíso, Senhor, eu não disse que haja serpentes no paraíso, mas digo sim que tive um sonho em que me apareceu uma serpente, e ela disse-me, Com que então o senhor proibiu-vos de comerem do fruto de todas as árvores do jardim, e eu respondi que não era verdade, que só não podíamos comer do fruto da árvore que está no meio do paraíso e que morreríamos se tocássemos nele, As serpentes não falam, quando muito silvam, disse o senhor, A do meu sonho falou, E que mais disse ela, pode-se saber, perguntou o senhor, esforçando-se por imprimir às palavras um tom escarninho nada de acordo com a dignidade celestial da indumentária, A serpente disse que não teríamos que morrer, Ah, sim, a ironia do senhor era cada vez mais evidente, pelos vistos, essa serpente julga saber mais do que eu, Foi o que eu sonhei, senhor, que não querias que comêssemos do fruto porque abriríamos os olhos e ficaríamos a conhecer o mal e o bem como tu os conheces, senhor, E que fizeste, mulher perdida, mulher leviana, quando despertaste de tão bonito sonho, Fui à árvore, comi do fruto e levei-o a adão, que comeu também, Ficou-me aqui, disse adão, tocando na garganta, Muito bem, disse o senhor, já que assim o quiseram, assim o vão ter, a partir de agora acabou-se-lhes a boa vida, tu, eva, não só sofrerás todos os incómodos da gravidez, incluindo os enjoos, como pariráscom dores, e não obstante sentirás atracção pelo teu homem, e ele mandará em ti, Pobre eva, começas mal, triste destino vai ser o teu, disse eva, Devias tê-lo pensado antes, e quanto à tua pessoa, adão, a terra ficou amaldiçoada por tua causa, e será com grande sacrifício que dela conseguirás tirar alimento durante toda a tua vida, só produzirá espinhos e cardos, e tu terás de comer a erva que cresce no campo, só à custa de muitas bagas de suor conseguirás arranjar o necessário para comer, até que um dia te venhas a transformar de novo em terra, pois dela foste formado, na verdade, mísero adão, tu és pó e ao pó um dia tornarás. Dito isto, o senhor fez aparecer umas quantas peles de animais para tapar a nudez de adão e eva, os quais piscaram os olhos um ao outro em sinal de cumplicidade, pois desde o primeiro dia souberam que estavam nus e disso bem se haviam aproveitado. Disse então o senhor, Tendo conhecido o bem e o mal, o homem tornou-se semelhante a um deus, agora só me faltaria que fosses colher também do fruto da árvore da vida para dele comeres e viveres para sempre, não faltaria mais, dois deuses num universo, por isso te expulso a ti e a tua mulher deste jardim do éden, a cuja porta colocarei de guarda um querubim armado com uma espada de fogo, o qual não deixará entrar ninguém, e agora vão-se embora, saiam daqui, não vos quero ver nunca mais na minha frente. Carregando sobre os ombros as fedorentas peles, bamboleando-se sobre as pernas trôpegas, adão e eva pareciam dois orangotangos que pela primeira vez se tivessem posto de pé. Fora do jardim do éden a terra era árida, inóspita, o senhor não tinha exagerado quando ameaçou adão com espinhos e cardos. Tal como também havia dito, acabara-se a boa vida.




http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/2010/01/03/ult5668u131.jhtm

 

sábado, 2 de janeiro de 2010

FLAGRA: BÓRIS CASOY OFENDE GARIS EM TELEJORNAL DA BAND



O apresentador de Telejornal da Band TV, Bóris Casoy, ao vivo, em vazamento de áudio, ao assistir dois garis desejaram "Feliz 2010" aos telespectadores, deixou escapar a lamentável expressão: "Que merda, dois garis desejando felicidades [...] do alto de suas vassouras (risos) [...] o mais baixo da escala do trabalho". Considerando que esses atos falhos, às vezes, representam o que carregamos no coração, ao apresentador, por quem "tinha" o maior respeito, apenas digo, "ISSO É UMA VERGONHA".  

Link dos vídeos. logo abaixo.

http://www.youtube.com/watch?v=U6SFqhYVmaE

http://www.youtube.com/watch?v=TA54NYpkgto

VOLTANDO A FALAR DE SONHO

Sonho é matéria invisível Igual carícia de vento Pode ser lembrança vivida Ou coisas que invento. Quando meu coração Acorda sorrindo E diz...