sábado, 31 de dezembro de 2016

BODAS DE OLIVEIRA




Põe-me como selo sobre o teu coração,
como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte/
As muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo
Cânticos de Salomão 8:6,7

Ao contabilizar mais um ano ao seu lado
Renovo meus propósitos
De ser e fazer feliz.
Não me iludo sobre facilidades
De um Nirvana “self service
Tampouco tenho pretensões
De alcançar o Sangrilá recitando
Máximas de autoajuda.
Minhas cãs testemunham
A meu favor.
O tempo me ensinou
Que, na vida a dois,  pântanos e desertos
Não são figuras de linguagem
Quando o assunto é vida real.


No desenrolar do veloz novelo dos dias
Aprendi que sozinho
Eu não colecionaria tantos 31 de dezembros
Com a mesma alegria.
Fazer flashback de nossas vidas
Não me dói
Porque os erros nos serviram como degraus
E nos ensinaram que de mãos dadas é mais fácil levantar.



sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Ode à Beleza



Prometo escrever-te novo poema
Cada vez que minha memória sussurrar teu nome
Como se pronunciasse impudico segredo.

A simples pronúncia da palavra
Evoca-me lampejos de beleza
E lembrar a delicadeza dos detalhes no entalhe
Acende-me um clarão poético
De ideias impublicáveis.

Mergulhado em vadios pensamentos
Possuído de mágico encantamento
Acaricio a túmida textura
Orvalhada de desejo.

Só de imaginar a formosura de tuas pétalas
E o aroma primaveril que delas emana
Renovo meus votos de poeta
Amante das metáforas incandescentes. 

sábado, 3 de dezembro de 2016

POEMA NÃO ESCRITO




Quando escrevo um poema
Vou juntando cacos ao acaso
Fragmentos de anseios e receios
E vou colocando-os
caco por caco
Palavra por palavra
No corpo de cada verso.

Entretanto
 Há poemas que não podem ser escritos

Eles existem
Independentemente
Em formas diversas de versos
E não cabem no universo
Da linguagem escrita

Poemas dessa natureza
São como a garoa que cai na madrugada
E não se vê a não ser
Nas pétalas da flor que não quis se proteger

São versos imateriais
Que exalam aroma de poesia
Sem letras
Sem palavras
Sem explicações

São poemas construídos
Com matizes de sensações
fruto de peripécias homéricas
Atadas ao novelo de nós
Guardadas no baú de elucubrações

Lembranças de pele roçando pele
Emanando cheiros de essências naturais
Misturados ao sabor de beijos indomados
No enleio de lábios e línguas sem freios

São poemas sem rimas
Sem letras
Que retratam o indizível
O inexplicável

Poeta que sou
Padeço da deliciosa agonia
De escrever e descrever
O que não se pode ler. 


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

POEMA SOBRE OÁSIS E SEGREDOS





No silêncio de meus pensamentos
Vou construindo meu ideário
Solitária mente.

Em meus sonhos vividos
Num oásis que não sei explicar
Misturo realidade e fantasias 
E vivo cada momento
Como quem escreve segredos
Em Sol maior.

Em meu silêncio poético sou livre
E livre sou alado
- Solto ao vento da imaginação -
Atado à saudade,
Mas livre nos braços
Da poesia nascida sob a égide da emoção.


quinta-feira, 20 de outubro de 2016

RASCUNHO DE IDEIAS



Nesta noite de outubro
Em horário de verão primaveril
Aqui estou
Tentando rascunhar ideias coloridas
Nas brancas páginas de minhas elucubrações.

No escopo de mil pensamentos,
Diagramas confusos
São projetados por um  data show
Fora do meu controle e
No vai e vem de minhas inúteis tentativas
Flashes de lembranças e devaneios
Insistem em piscar
 In-ter-mi-tem-te-men-te
Me enchendo de porquês
Que não sei responder.



Como esquecer a mágica alegria
Sentida ao lambuzar minha boca
Com o sumo da amora madura
Colhida às escondidas
No canteiro das travessuras inconfessáveis?

O que dizer do sabor da uva
E sua delicada tez de vulva
tenra e túmida em sua beleza única
Que existe somente
No doce pomar de loucuras?

Como ignorar a dança das labaredas
E suas ígneas línguas
Lambendo paredes metafísicas
Na alcova do poeta no exílio?

Como não invocar o encanto
Do oásis de meus delírios,
Shangri-lá de metáforas ululantes
Fonte de êxtase e prazeres ruidosos,
Onde Sol e brisa fazem minha alforria?

Impossível esquecer
A beleza misteriosa da madrepérola
Nascida na concha de Afrodite.

Sei que na cona de Vênus
Repousa a belíssima joia de alto relevo
Hipocentro dos abalos sísmicos
Que move a humanidade
e é ali  que Zeus ocultou segredos
Indispensáveis à poesia.

Entretanto estou aqui
Preso ao desespero da busca do texto

Não fosse o poder ilimitado da imaginação
Estaria desterrado e atado ao totem da desilusão
Escravo do rito de remover ruínas  
Seria carrasco de mim mesmo
destinado ao ócio de colher os segundos
Vazados da ampulheta da solidão
E sequer as mandrágoras
Nascidas sob o cadafalso da saudade
Trariam um átimo de emoção.


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

DE REPENTE, É ISTO:


Chegado o outono,
Colho frutos plantados
Em invernos longínquos
Sem perder a eufórica alegria
Das primeiras vezes no pomar.

Mais de meio século
Assistindo a cíclica sucessão das estações
Não fizeram de mim
Um espantalho de lamentações.
Sempre me surpreendo extasiado
Ao olhar a fruta e tocá-la, 
como se fosse a primeira vez.

De repente é isto:
Quedo-me, mudo de encanto,
Ao contemplar o desenho em ricos detalhes.
Sinto a textura, contexto e ternura,
Aspiro o cheiro gostoso de fruta madura
E Sugo o sabor da seiva elaborada, louca mistura.
Isso me eleva ao zênite em idílica aventura.
 Oh! meu Zeus!  

Em minha Odisséia
 Me encontro quando me perco. 

Livre da idade
Sinto-me um mancebo
Que não perdeu o prazer de empinar pipa
 ao sol de meio dia,
Que faz da farra alforria,
E da saga, poesia. 

terça-feira, 11 de outubro de 2016

CANTEIRO DE MEMÓRIAS ONÍRICAS



Em meu canteiro de memórias oníricas
Plantei mudas floridas de Ciclame
E sementes de um pequeno poema insólito
Que fala de fantasias e realizações.

Como não me encantar ante a
Beleza vermelha das flores
Banhadas de raios de sol
E versos tingidos de luz?



Para mim
Amanhecer é dádiva
Quando se ouve o canto dos pássaros
Enquanto o café fumegante exala seu cheiro
Por toda a casa
Fazendo de cada expectativa poética uma certeza idílica.

Em meu oásis é assim:
Canteiros de flores e poemas
São regados por veios de águas cristalinas
Que na inocência das correntezas despretensiosas
Vão rolando seixos e desejos no perau.



sábado, 1 de outubro de 2016

CHEIRO É IGUAL TEMPERO


Cheiro é igual tempero
Iguaria que difere
Bálsamo singular
Marca registrada
Nome e sobrenome.


No verso e anverso das essências
Existe cheiro e cheiros 
mas 
também existe
o cheiro
 Aquele inconfundível
Único
Que não se mistura
E provoca enlevo
Só de lembrar.


No hemisfério empírico dos aromas
O que soma
Faz a diferença.



Ao mergulhar no universo dos sentidos
Além da magia da visão que inebria
É no tato e no olfato 
Que teço a tese do desejo
Matéria e antimatéria
De minha poesia. 

quarta-feira, 13 de julho de 2016

INSÔNIA II (ou simplesmente, REALIDADE VIRTUAL)



Novamente o interruptor do sono emperrou,
Mas desta feita não me dobrei ante ao agônico martírio
Provocado pelo tropel do exército de angústias
Eivados pelas cotidianas preocupações.

Num exorcismo solitário e silencioso,
Expulsei do quarto os zumbis, assombrações,
Boletos bancários, compromissos chatos pré-agendados,
Toda sorte de fantasmas.

Decidi não permitir que minha mente encarrilhasse
Palavras poéticas sobre trilhos de insana lucidez.

Ato contínuo,
Invoquei belas ninfas do olimpo,
Convidei Penélope, esposa de Odisseu
E as sereias que o seduziram.

Não me esqueci de chamar a fogosa Madame Emma Bovary,
E não deixaria de fora a Machadiana musa da dúvida, Capitu.

Na minha Pasárgada, sou o próprio rei.
Mas o lento gotejar de minha noite insone
Deixaram as convivas entediadas
E uma a uma, todas resolveram me abandonar.

Novamente só, de volta à metafísica trincheira que abriga poetas
desterrados de si mesmos, num lampejo, vi alhures um vulto seu.

No lusco-fusco,
Abracei-me aos feixes de luz
Fixados na linha limítrofe do delírio e realidade,
Encantado ante sua holográfica nudez.

Só de imaginá-la
no panties
O sol voltou a brilhar em meu oásis. 

sábado, 9 de julho de 2016

INSONIA




É noite.
Desliguei a luz.
E agora, o que faço para desligar-me
Se o interruptor do sono deu pane?

O Eco do tic-tac em meu relógio imaginário
Não me deixa ser digital
E, no escuro, sinto a noite gotejando
 Longos minutos sobre minha cabeça inquieta.

O que fazer com essa multidão
De pensamentos marchando em volta de minha cama?
Fosse fácil fazer mágica,
Ligaria a luz e, num ato
( zupt!)
Tudo estaria em silencio novamente.

Mas as coisas não são simples assim
Quando a vertente de ideias
Não respeita os limites ideais
E o exército ruidoso não desiste
Enquanto a mente, em ebulição, insiste.

Não me viesse este texto, assim, tão avalanche,
Eu apenas viraria de lado
E ficaria quietinho,
De olhos fechados,
Esperando o tropel passar.

Mas, vencido pela sequencia monótona
Da ampulheta metafísica,
Exito apenas  entre pegar papel e caneta
Ou ir para o computador.
Só não posso perder tempo
Porque os versos já prontos, de memória,
São voláteis e precisam se materializar.

Há pessoas que, às vezes, me perguntam
O que me inspira ao escrever um poema.

Poesia é ato empírico.
O poema nem sempre é resultado
De inspiração, beleza ou calmaria.
 Não poucos resultam da transpiração, batalha,  dor e agonia. 

terça-feira, 5 de julho de 2016

PROJETO DE POEMA




Nesta noite, quero escrever um poema matinal que fale de
Sol, sonhos, segredos, sensibilidade,
Sem saber se serei segredado.

Um poema em que seja como o abrir de uma janela
Aos primeiros fachos se luz,
Quando a madorra ainda impede que braços abracem
 a novidade do dia e o brilho que seduz.

Um poema que seja verdadeiro em sua virtualidade
E virtual na plataforma da verdade.

Um poema em que os mistérios do impublicável
Seja combustível para a magia
E a alegoria lenha para alimentar a fogueira da fantasia.

Um poema com letras que digam muito sem nada falar,
Que seja singular no sentido plural do encantamento
E plural na singularidade no modo de encantar.

Poema que fale de oásis e devaneio
E eleva o poeta ao único local onde ele é pleno, inteiro,
Porque ali se alimenta da seiva que sustenta o esteio.

Mactub! 
Agora vou dormir, é noite,
 Mas espero que quando a alvorada chegar,
Este projeto de poema
Seja pássaro a cantar na janela de quem se permitiu humanizar.  


sábado, 2 de julho de 2016

AROMA DE ALECRIM




Amanheceu em meu quintal
E hoje é sábado de sol sem plantão,
Dia de folga.
Que maravilha!

Devagar a luz dourada vai tingindo de brilho
As folhas das plantas
E percebo um tenro broto de orquídea
Rompendo em promessa de beleza abraçada ao tronco do abacateiro.


Do outro lado, a alegria dos pássaros
Fazendo algazarra, 
No pejado limoeiro
Ou  nos galhos de romã,
Roubam minha atenção. 

Com uma xícara de café quentinho na mão,
Vou até a hortinha, ao lado do canil, 
Onde o viçoso alecrim
Exala um aroma de bom dia,
Difícil de explicar.

Amanheceu em meu quintal, 
Sobre as plantas e animais
E é sábado,
Véspera de domingo.

Isso me faz lembrar os domingos de minha infância,
Na casa de meus pais,
Único dia da semana
Em que comíamos frango
Ao molho de açafrão
Feito por minha mãe.

A lembrança daqueles sábados e domingos
Surgiu num átimo de tempo, de repente, 
Como um eco emergido de um passado distante
Esquecido naqueles quintais de minha infância.

Talvez amanhã, num outro sábado qualquer,
Eu vá me lembrar de hoje, desta manhã de poesia e reflexão.

Se por alguma razão eu não puder me lembrar,
Pode ser que alguém se lembre por mim
Ou se lembre de mim,
E a saudade surja sem explicação,
Como o aroma de alecrim.   

terça-feira, 21 de junho de 2016

SOBRE AMOR, ABRAÇOS E POESIA




Cada poema que escrevo
Me escreve antes de eu escrevê-lo.
É como se a obra produzisse o obreiro.
Não que eu seja tardo em saber o que sou,
Mas a poesia só vai fazendo sentido
A medida que vai sendo vivida.

Às vezes, o texto, antes de ser pretexto é contexto.

Por isso, quando falo de amor,
Não falo apenas do que estou sentindo,
Mas sinto e falo o que me faz sentido.

Quando te abraço,
Quero dizer mais que: há braços!
Quero dizer que amar é algo que não sei dizer,
Mas cabe no meu ato de te envolver. 

segunda-feira, 20 de junho de 2016

SOLTÍSCIO DE INVERNO



Nesta noite de início de inverno
Terei mais tempo para a poesia.
Anseio que sob a benção da lua cheia,
O élan
Visite minha alma pisciana
Até eu sentir a brisa do lirismo
Acariciar meu rosto cheio de humanidade e esperança.

Se a poesia se concretizar,
Amanhã de manhã,
Assim que a passarada matutina,
Que visita meu quintal todos os dias ,
Iniciar as algazarras habituais,
O sol fará suave  "toc-toc"  na janela de meu quarto,
Sussurrando “bom dia”,
E eu, pequeno sonhador que sou,
Saberei que algum dia,
Serei do tamanho do meu sonho,
E maior que minha poesia.    



sexta-feira, 17 de junho de 2016

MEUS SEGREDOS



Meus segredos, escondo-os na medula das palavras mimetizadas entre sílabas tônicas e átonas que vem a tona enfileiradas em frases de efeitos feitos de entre aspas e reticências. Nunca minto sobre o que sinto. Sempre sou a favor da verdade, mesmo sabendo que me tira a liberdade. Quando digo que a quero, não falo apenas pelo falo, mas pela palavra que lavra a verdade intrínseca e risca o fósforo de incendeia a teia das ideias. Agora por exemplo, escrevo seu nome no epicentro do pensamento como se a tinta jorrada nas abas da imaginação pudesse acalmar o clamor da intenção. Quando meu desejo é escrito a mão, o ato não mata minha vontade de você, mas engana minha necessidade de escrever.   

quinta-feira, 16 de junho de 2016

SOLILÓQUIO



Às vezes preciso de silêncio para me encontrar. Não raro, me busco nas dunas de meu hemisfério interior, onde apenas se ouve o ecoar dos pensamentos insistentes que não desistem de me acompanhar.  Quando me encontro a sós, empilho grãos de areia na palma da mão e escrevo seu nome no chão. Mas logo sopra o vento estraga prazer e apaga seu nome que acabei de escrever. Imediatamente, inverto a ampulheta ancorada num vão que não vi e ganho minutos de saudade na prorrogação. Não sei o que faria se não pudesse ficar a sós comigo. Estou certo que no epicentro do turbilhão é impossível ouvir qualquer canção. Sou adepto do diálogo, mas não abro mão do solilóquio. Por tudo isso, no final do dia quando é decretada minha alforria, busco o refúgio da varanda de meus devaneios. Ali eu sou eu por inteiro, poeta despido de tudo que me amarra, artífice de minha própria escultura, que na saudade de ser o que se deseja ser, faz do sonho a sepultura.         

quarta-feira, 15 de junho de 2016

BOLERO DE RAVEL





Há muito aprendi ler seus pensamentos
E sei o que sente ou deseja muito antes de você falar.
Agora, por exemplo, sei que ao ler este início de poema,
Você vai disfarçar um sorriso malicioso
E guardar, em silêncio, uma vontade de me dizer
Ao pé do ouvido: “safadinho!” para ninguém escutar.

__Não adiante negar.
__Outra coisa:

Na penumbra do quarto,
Quando seu corpo nu, sobre a cama, em claro sinal de rendição,
Está ao alcance de minha boca,
Sei que você vai fechar os olhos,
Mas seus pelos eriçados e seus lábios intumescidos
Denunciarão que você amou, de véspera,
A agonia deliciosa da espera do beijo.

Sei ainda que quando você sentir
A força metafórica de meu poema  
Penetrar seu universo metalinguístico,  
Você vai ouvir bolero de Ravel
Num crescente contínuo,
De tal forma que, 
Quem nunca ouviu jamais vai entender
E quem já ouviu nunca vai conseguir explicar.

Sei de tudo isso
Porque poeta é meio bruxo.


Por fim, sei que no texto e no contexto,
Após me ler e reler diversas vezes,
Você vai querer caminhar nua e descalça
Sobre os rastros de luz das estrelas,
Esparramados no leito da imaginação,
Sem se importar se o amanhã é uma segunda-feira.

É assim que é.
Sou poeta. 
Eu sei.

VOLTANDO A FALAR DE SONHO

Sonho é matéria invisível Igual carícia de vento Pode ser lembrança vivida Ou coisas que invento. Quando meu coração Acorda sorrindo E diz...