Não guardo segredo
Sobre meu insano degredo.
Sempre que posso
Deserto-me da realidade
Pelo simples prazer
De voar nas asas da liberdade .
Um dos méritos da poesia
É singrar livre nas águas da fantasia.
Assim, dias atrás noutro poema que escrevi,
Você apareceu-me vestida de Chapeuzinho
Vermelho
Passeando num imaginário parreiral
Totalmente livre das amarras do mundo real.
Naquele instante, alvejado pelos dardos do
encantamento
Prostrei-me, silente, sem entender o motivo do
endeusamento.
Você caminhava a passos leves.
Na verdade não sei se caminhava ou levitava,
Mas sei que eu, vencido pelo êxtase do enlevo
surreal
Declarei amor àquela visão paradoxal.
Por instantes, detive-me apenas a observá-la,
Mas, subitamente, ardeu-me um desejo
incontrolável de amá-la.
Distante e linda, alheia e alhures
Você se ocupava colhendo uvas dulcíssimas
E eu, possuído de encanto, naquele rompante
incendiário
Fiz do parreiral um santuário.
Se você soubesse
O tamanho de meu desespero
Deixaria cair aquela capa carmim
E ficaria vestida apenas chapeuzinho.
Por capricho posaria nua com a cesta de uvas na
mão
E o poema seria literária solução.
Ipso facto pergunto qual o papel da
poesia
Não fosse a possibilidade da magia?
Somente assim, eu poeta chinfrim
Ouso dominar o vento e mover a capa carmim
Até pousar meus olhos embevecidos na beleza
imaginada
Cuja perfeição sob a luz do sol se faz
revelada.
Mas sei que meu delírio de lobo mau
Esbarra numa realidade abissal.
Não fosse isso
Nem as demais barreiras do abisso
Meu texto seria apenas sonho em forma de poema
E meu poético desejo, tão somente, metafórico
dilema.
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