quarta-feira, 2 de agosto de 2017

MINHA SAGA DE ODISSEU




Tira-me o pão, se quiseres, 
tira-me o ar, mas 
não me tires o teu riso.
Pablo Neruda 


Não preciso fazer mistério

Para dizer que te quero.



Ainda que fosses um sonho sonhado em meu exílio

Ou uma ilusão na dura realidade da lida

Ou então uma miragem fruto do meu pomar de loucuras

A simples contemplação do brilho de teu sorriso

Elevar-me-ia aos píncaros, às alturas.



Bem sei que o Olimpo é paraíso distante

E que este o poeta vive no universo de mortais

Também sei que Ulisses quase enlouqueceu

Simplesmente ao ouvir o canto da sereia

Mesmo assim vou escrevendo minha saga de Odisseu.



Na ânsia de querer-te

Perco-me em maravilhoso desatino.

Num instante, sou veleiro aos revezes do vento

Poeta singrando sonhos à deriva, ao relento

Homem velho vivendo travessuras de menino.



Mostra-me teu riso, peço-te,

Refletido nas faíscas de sol das manhãs

A estética do encantamento e desejo

Se desenha a partir de um simples lampejo.



Não fossem minhas humanas limitações

Visitaria o Olimpo de surpresa

E sem dar satisfação de minhas intenções

Faria de ti a mais linda presa.



Assim sendo, refém de paradoxal sentimento

Consultei meus oráculos, falei de meu desejo

E sem medo de tristeza e arrependimento

Prometi escrever poemas em troca do lampejo.



Não preciso fazer mistério

Para dizer que te quero.



Ao abrir as comportas da minha imaginação

Fiz-me avalanche de ilusões, redemoinho sem freios

Soubesses a intensidade de minha emoção

Não me torturarias com teus rodeios.



Quiçá fossem as deusas por Zeus castigadas

Sempre que provocassem tamanha agonia

Por capricho, elas revelam-se lindas e desejadas

Mas não se permitem além da fantasia.



Mostra-me teus lábios, peço-te mais uma vez,

Ainda que num flash na penumbra do ocaso

Às vezes os grandes sorrisos só se revelam

Longe de indiscretos olhares ao acaso.



Se na intimidade é mais fácil acontecer a magia

E na penumbra o mito não mente

Acenda-se, então, somente o clarão da poesia

Sob a benção da nua lua silente.



Não preciso fazer mistério

Para dizer que te quero.


VOLTANDO A FALAR DE SONHO

Sonho é matéria invisível Igual carícia de vento Pode ser lembrança vivida Ou coisas que invento. Quando meu coração Acorda sorrindo E diz...