terça-feira, 5 de maio de 2009

AUTO RETRATO


Sobra de mim mesmo,
Assombra-me
Perceber a ignorância de ser.

Para espanto do espelho,
Súbito quebro algemas
E declaro alforria
De mim mesmo.

Escravo da liberdade,
Não me libertei
De ser vento,
Luz,
Sonho.

Amigo de duendes,
Sempre soube seduzir
Objetos
E construir escombros,
Insônias, delírios.

Não temo o vôo
De minha metade alada,
Nem o estigma de ser raiz,
Cravado ao chão de mim mesmo.

A proeza de sobrevoar
Telhados de amianto e tédio
Não me consome a fome
De ser homem,
De ser lume,
De ser livre.

Nunca me couberam
Os porões do mundo
E os modos primitivos
De esculpir estrelas.

Insano, sou acima de tudo
Enigma. Desconheço
Meu rosto no espelho dos dias.


BASTOS, Almáquio. Ciclo do Nada, Ed. Pirineus, Goiânia: 1996. p. 21

Um comentário:

VOLTANDO A FALAR DE SONHO

Sonho é matéria invisível Igual carícia de vento Pode ser lembrança vivida Ou coisas que invento. Quando meu coração Acorda sorrindo E diz...