quarta-feira, 15 de julho de 2009

TERCEIRIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: CÂNCER NO SEIO DA SOCIEDADE MODERNA?

A vida me ensinou muita coisa e uma delas foi aprender a ler o que não está escrito. Os anos me legaram mais que cabelos brancos. Com o tempo aprendi a importância de tirar lições das mais diversas situações, mesmos que sejam situações, aparentemente, inaproveitáveis e todo o lucro auferido seja apenas a certeza de que aquilo não merece ser repetido.

Um incidente qualquer, por mais banal que possa parecer à maioria das pessoas, pode ser excelente combustível para um cronista, assim como uma nesga de luz, vazada por entre as frestas de uma velha janela de madeira pode iluminar a mente de um poeta. Do mesmo modo, a curva de um rio ou o olhar triste de uma criança pode encher de cores uma tela branca sujeita a emoção de um pintor. Embora muitos não percebam, a vida é assim. Tudo pode ser matéria nas mãos do artista.

Entretanto, poetizar nem sempre é indolor, assim como nem sempre as contemplações são matérias primas de arte. Aprende-se muito com a dor, com o erro e também com o simples ato de observar.

Minha avó era analfabeta, não sabia escrever, mas sabia ler as coisas que não estavam escritas em papel. Em contrapartida, em minha vida profissional, já trabalhei com chefes pós-graduados, mas incapazes de perceberem qualquer coisa além das encardidas letras dos manuais. Somente o tempo me trouxe a serenidade de compreender que a vida é uma escola que precede a escola.

Hoje, por exemplo, eu tive uma aula importante. Minha esposa me pediu que a levasse ao centro da cidade a fim de comprar algumas coisinhas. Tentei persuadi-la a ir a um dos Shoppings da nossa capital, como ela mesma sempre prefere, mas desta vez ela foi enfática ao dizer que queria visitar algumas das lojinhas que ficam ali no centro de Goiânia, mais precisamente nas proximidades da Avenida Goiás com a Avenida Paranaíba, próximo ao mercado aberto. Como discutir com alguém que tem, em si, um parque de diversões à nossa disposição, mas também tem TPM? Lá fomos nós. A propósito, o mercado aberto deveria mudar de nome. Eu o batizaria, sem medo de errar, de “inferno a céu aberto”. Se Dante Alighieri o tivesse conhecido, certamente o teria mencionado na sua obra “A Divina Comédia”.

No princípio do tour, eu até que me esforcei para acompanhá-la. Comecei a olhar as alguns objetos, mas, antes de finalizar a primeira dezena de lojinhas, pedi arrego. Preferi ficar do lado de fora, fazendo papel de segurança. Melhor assim, pensei, porque as mulheres não são práticas como nós. Quando elas dizem querer um sapato, olham bolsas, lenços, roupas, bijuterias, olham tudo como se fossem comprar o conjunto. Na verdade estão apenas conjecturando as duas mil setecentos e trinta e nove possibilidades de combinações de um acessório com o outro, inclusive com aquele esquecido no fundo da gaveta, que todas possuem em casa e que dificilmente usam. Os maridos atentos sabem do que eu estou falando.

Por isso, seria extremamente proveitoso se todo centro comercial criasse um cantinho para os maridos, como os que já existem em alguns eventos direcionados ao público feminino. Bastariam alguns sofás, uma TV de tela plana com, no mínimo, vinte e nove polegadas, ligada a um canal fechado de esportes ou notícias e cafezinho. Coisas simples, pois não somos exigentes. A grande vantagem é que assim as mulheres teriam mais de tempo e ainda se livrariam da incomoda sombra de companheiros mal humorados.

Como ali na Avenida Goiás, próximo ao inferno a céu aberto, isso é utopia, comecei a observar as pessoas que passavam. E não eram poucas. Uma das primeiras lições do dia, depois do exercício de paciência, foi que a maioria das pessoas não existe no mundo real. São personagens tipológicas oriundas do cinema fantástico ou dos comerciais de TV. Elas se misturam com a população, fazem amizades, casam-se, tem filhos e, sem serem notadas, passam a fazer parte das comunidades. Nos longos minutos que ali fiquei, em catarse, vi muitos que, provavelmente, participaram daquele clip famoso, thriller, do inigualável alienígena Michael Jackson.

Entretanto, as lições mais importantes do dia brotaram da minha inquietação ao assistir algumas cenas comuns, porém inaceitáveis, de prática de maus hábitos. Particularmente, penso que muitos maus hábitos, que afetam a terceiros, deveriam ser considerados crimes ou, no mínimo, uma contravenção penal. A pessoa flagrada na prática criminosa pagaria multa e/ou cumpriria pena alternativa.

Naquela oportunidade, assisti um grande desfile de pessoas jogando lixo no chão, em via pública, com a mesma naturalidade com que respiravam. Foram copos descartáveis, guardanapos usados para segurar aquela coxinha pingando gordura adquirida no quiosque da esquina e devorada durante a caminhada, folhetos de propagandas, embalagem de salgadinhos industrializados, tipo Skiny, ótimos para serem consumidos por aqueles que não amamos. Evidentemente presenciei exceções, mas os deprimentes flagrantes são foram poucos.

Um grande número de pessoas desconhece a função de uma lixeira, ou simplesmente não tem paciência para tentar encontrar alguma, pois o poder público também não ajuda muito quando não faz sua parte, que é instalar lixeiras suficientes nos locais públicos.

Dentre os arremessadores de lixo, destaco os arremessadores de tocos de cigarros. Não pelo tamanho do objeto, mas pelo ato ritualístico. Os tabagistas assumidos, quando estão finalizando uma fumada, dão um último trago como se estivessem tendo um orgasmo. Logo em seguida, inclinam a cabeça em um ângulo de, aproximadamente, quarenta e cinco graus, entortam o canto da boca para o lado e lançam no ar um canudo de fumaça mal cheirosa. Finalizam o ritual com um gesto quase olímpico: prendem o toco aceso entre o polegar estendido e o dedo médio curvado na direção do primeiro. O segundo dedo se solta bruscamente, afastando-se do polegar e impulsionando o objeto, até então, preso que é lançado pela catapulta digital em algum lugar qualquer, a poucos metros de distância.

Finalmente, a lição mais contundente e repugnante. Cenas explícitas de cuspidas ou escarradas em locais públicos. O praticante deste mau hábito, ao ser flagrado, deveria receber, no ato, um papel toalha e então lhe seria solicitado a limpar os dejetos produzidos no íntimo de seu ser e lançados na calçada. O autor reincidente, após o constrangimento da limpeza pública, seria encaminhado à DDC, Delegacia de Defesa da Cidadania, para a aplicação das penalidades cabíveis.

Como afirmei no início deste texto, a vida ensina muita coisa. É sabido que nas escolas tradicionais, as lições são disponibilizadas a todos, mas o aprendizado é algo individual e nem sempre as informações geram conhecimento. Uma mesma sala de aula pode abrigar, simultaneamente, futuros profissionais respeitados e futuros bandidos procurados.
Em face desse dilema, pergunto-me: a escola formal tem conseguido formar cidadãos por meio da transmissão de saberes históricos-culturais institucionalizados? Eu mesmo respondo. Sim e não. E este paradoxo me inquieta.

Os pais têm negligenciado a educação de seus filhos, terceirizando-a a avós, babás, mas, sobretudo aos professores. Tenho conhecimento de que a conquista da cidadania, adquirida por meio de lições de ética, moral e bons modos, ministradas em salas de aulas, é um ideal belíssimo, mas as lições extraclasse, aplicadas no cotidiano, entre os membros da família, podem ser muito mais eficientes. Aquilo que minha avó referia-se como sendo “educação de berço”.
Por isso, creio que a terceirização da educação dos filhos por parte das famílias, principalmente por parte dos pais, aliada à ineficiência do Estado, sobretudo no ensino público, tem criado tantos seres irreconhecíveis que não seria exagero compará-la a um câncer no seio da sociedade moderna.

*Almáquio Bastos é Escrivão Policial Civil e Escritor.

sábado, 11 de julho de 2009

SEGURANÇA PÚBLICA É ASSUNTO NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DE GOIÁS

O deputado Mauro Rubem(PT-GO), em sessão ordinária no dia 06/07/2009 na Assembléia Legislativa, colocou em debate o afastamento do Major Araújo da presidência da Associação do Oficiais da Polícia Militar e Bombeiros Militar de Goiás e também mencionou a greve dos Policiais Civis. Particularmente, não simpatizo com o deputado, mas o parabenizo pela iniciativa, sobretudo pela menção feita por ele da necessidade, urgente, de se "abrir um diálogo de conversação" para resolver estas questões relativas à Segurança Pública. Assista o vídeo, na íntegra no youtube, bem como saiba mais sobre o assunto no blog do Major Araújo.


http://www.youtube.com/watch?v=T97z-eDloXQ

http://majoraraujo.com.br/

sexta-feira, 10 de julho de 2009

NOSSO VOCABULÁRIO - POR MILLÔR FERNANDES

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" o substituem. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por ílaba...Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo.

Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".

Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo?

Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se.



FERNANDES, Millôr. La Insígnia. Brasil:2005.
http://www.lainsignia.org/2005/julio/cul_021.htm

terça-feira, 7 de julho de 2009

AULA DE GRAMÁTICA

Membro do corpo docente
Ávido para ensinar flexões do verbo amar,

Pronto para introduzir o conteúdo
na trissílaba paroxitona terminada em "a",
com sílaba tônica de fonema /sê/,
e, impronunciável em público por ser,
semanticamente, considerada um palavrão,

Reprova atitude de aluna que interrompe a aula
e deixa mudo o mesme com a rija caneta na mão:

__Professor, "beijo" é ditongo ou hiato?


BASTOS, Almáquio. Sob o signo de de Eros. Goiânia: 2007. p. 47

quinta-feira, 2 de julho de 2009

POLICIAIS CIVIS MANIFESTAM SOLIDARIEDADE AO MAJOR ARAÚJO

A União dos Policiais Civis de Goiás, UGOPOCI, publicou, em seu site, o artigo “Um Golpe na Democracia”, em solidariedade ao Major Araújo, presidente da Associação dos Oficiais PM/BM do Estado de Goiás, e que fora “destituído” deste cargo por ordem judicial.
O manifesto acontece em um momento político no qual a Polícia Civil Goiana está em greve, reivindicando o cumprimento da lei no que se refere ao pagamento de resíduos salariais, data base e melhores condições de trabalho, bandeira esta que também fora abraçada pela ASSOF sob a presidência do Major Araújo.
Leia a seguir, trechos deste manifesto:

No último dia 17 fizemos contato com a ASSOF – PM-BM para convidar o seu presidente, Sr. Major ARAÚJO, para participar de uma reunião de entidades de classe, ocasião em fomos surpreendidos ao saber através de colegas da Polícia Militar que o mesmo não era mais o presidente da ASSOF, isso em razão de que havia sido afastado “destituído” da presidência daquela associação por determinação judicial. E que tanto o Major ARAÚJO quanto o SD – TELES estariam presos no Quartel da Ajudância Geral.
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Pois bem, execraram o Major ARAÚJO e o SD TELES, mas esqueceram propositalmente de dizerem algumas verdades, assim, passamos a elas:
O Major ingressou na corporação em 1987, portanto há mais de 20 (vinte) anos, desde sua investidura até a presente data, pelo que sabemos, não consta em seus assentamentos funcionais qualquer punição, consta sim vários elogios e comendas que recebeu ao longo da carreira, inclusive a Medalha Dom Pedro II, mais alta condecoração concedida pelo Corpo de Bombeiros Militar de Goiás. Como pode então ser nocivo à sociedade pelo fato de estar reivindicando direito líquido e certo seu e de seus representados, ora, se há alguém descumprido a Constituição e a Lei, esse alguém é o Governador, inclusive se mostrar inerte apático, demonstrando quase um estado letárgico.

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O mais grave de tudo que foi colocado é entender que a conveniência sobreponha ao direito, todas as instituições associativas e sindicais existentes em Goiás correm sérios riscos de sofrerem o mesmo que ocorreu com a ASSOF – PM/BM, o que se mostra um retrocesso para o processo democrático e conseqüentemente à evolução social. A permanecer como está, estaríamos voltando ao tempo do Coronelismo, algo já superado em dias presentes.
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Finalizando, repudiamos e consignamos nosso apoio, dizendo: não queiram atingir o homem de CARÁTER naquilo que lhe é mais precioso, SUA HONRA, QUALIDADE QUE ASSISTE A POUCOS.

Goiânia 24 de junho de 2009.


União Goiana dos Policiais Civis
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Leia a matéria na íntegra em http://www.ugopoci.com.br/index.php

VOLTANDO A FALAR DE SONHO

Sonho é matéria invisível Igual carícia de vento Pode ser lembrança vivida Ou coisas que invento. Quando meu coração Acorda sorrindo E diz...