domingo, 30 de julho de 2017

BILHETE DE DESPEDIDA



Parti, sim parti,

Mas não fui sozinho.

Para o exílio levei comigo

Meu coração vazio de poesia.



Não poucas vezes

Fui ao pomar de loucuras

A sua procura.

Em vão meus pés

Trilharam nos vãos das ilusões

E sem alcançar a magia do seu olhar,

Desistiram de procurar.



Na despedida eu disse:

Hoje não escreverei nada.

Não há nenhum poema em gestação

Em meu coração.



No pomar vazio de você

Não havia a doçura de outrora.

Os frutos, antes tenros e dulcíssimos

Guardavam, agora, sumos amaríssimos.



Sem o sol a iluminar o pomar

Pouco vale a luz do luar.



Sem a beleza da flor de verão

No pomar das ilusões,

Sequer vinga frutos temporões.




Parti, sim parti,

Mas não fui sozinho.

Na bagagem das lembranças,

meu coração em desalinho.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

DESPEDIDA




Hoje não escreverei nada.

Não há nenhum poema

Em gestação em meu coração.


Por ora, apenas recolherei

Palavras que ficaram

Espalhadas em desalinho.


Alguns adjetivos florescidos no verão passado,

Os quais tanto me inebriaram de poesia

E agora parecem não fazer sentido.


Também guardarei em caixas lacradas

Restos de metáforas que me sorriam ambiguidades

Pelo simples prazer de provocar felicidades.


Guardarei ainda alguns verbos

Encarregados de desenhar ações

Sonhadas em pretéritas ilusões.


Se algum dia, do desterro, eu retornar

Pode ser que meu desassossego

Me instigue, novamente, a versejar.


Mas se amanhã, quando o sol raiar,

Um novo verso meu te fizer sorrir

É porque eu desisti de partir.

terça-feira, 25 de julho de 2017

DOS CHEIROS E SABORES NA DEGUSTAÇÃO DOS LICORES



Oh, lindo pomar de doçuras!
- Afrodite de meu desassossego -
Sua beleza com cheiro de cio
me enlouquece.”
Almáquio Bastos*



De volta ao meu pomar de loucuras

Faço-me passageiro do sonho

Em oníricas travessuras.



No ato da entrega aos loucos devaneios

Não meço as consequências

Para saciar minha sede dos anseios.



Sei que não é por acaso

Que acontece o ocaso

E que, de igual forma, não é casual

A aurora boreal.


A flor que amor tece

E ilude na vida

No coração floresce

Antes de mostrar-se na lida.


Ser poeta não é fácil.

Pelo contrário, é difícil viver no mundo real

Tendo ao alcance

As possibilidades do universo surreal.



Soma-se a isso o sexto sentido

E poções mágicas de fantasias

Essência de desejo proibido

E lampejos de poesias.


Foi assim que caminhando sob parreiras pejadas,

Maravilhado ante frutos prontos para colheita,

Invoquei Baco já com preces premeditadas

Pra que Afrodite se mostrasse, ainda que em silhueta.


Mal minha prece chegou ao fim

Você, na contraluz, apareceu pra mim.

__Ai, meu Zeus, pensei, porque fostes tão cruel

Por causa do fogo roubado por Prometeu?!

Soubessem os deuses de minha agonia

Não me teriam dado o dom da poesia.



Pelos grilhões do encanto algemado

Esqueci a sina de Pandora

E quando já estava, totalmente, dominado

Percebi que a lucidez tinha ido embora.



Meu pomar tem cheiros e sabores diversos

Oásis onde licores se misturam se medo

De que a vida que transcende os versos

Nos puna com os ritos do degredo.



Tamanha perfeição e beleza, pensei comigo,

Não pode ser delírio deste pequeno poeta sonhador.

Ainda que Baco me tivesse por inimigo

Não me iludiria com tamanho esplendor.






* Bastos, Almáquio. In Pomar de Loucuras,


quinta-feira, 20 de julho de 2017

DIA DE SOL, DIA DE POESIA



O inexplicável existe

Acredite

A vida não é lógica

Matemática mente



Não obstante a arrogância das científicas certezas

Basta-me o enlevo que sinto

Mesmo quando, à deriva, navego correntezas

E a poesia é prova que não minto.



Certo estou que todo dia é dia de poesia

Assim como sempre é dia de sol em qualquer estação

Seja equinócio de primavera

Ou solstício de verão.



Para mim musa é deusa idolatrada

Cuja alquimia dispensa explicação.

Um simples raio de sol sobre a face encantada

Faz reluzir áurea magia em profusão.



quarta-feira, 19 de julho de 2017

CHAPEUZINHO VERMELHO PARA MAIORES (Poema Prosaico)


Não guardo segredo

Sobre meu insano degredo.

Sempre que posso

Deserto-me da realidade

Pelo simples prazer

De voar nas asas da liberdade .



Um dos méritos da poesia

É singrar livre nas águas da fantasia.

Assim, dias atrás noutro poema que escrevi,

Você apareceu-me vestida de Chapeuzinho Vermelho

Passeando num imaginário parreiral

Totalmente livre das amarras do mundo real.


Naquele instante, alvejado pelos dardos do encantamento

Prostrei-me, silente, sem entender o motivo do endeusamento.

Você caminhava a passos leves.

Na verdade não sei se caminhava ou levitava,

Mas sei que eu, vencido pelo êxtase do enlevo surreal

Declarei amor àquela visão paradoxal.


Por instantes, detive-me apenas a observá-la,

Mas, subitamente, ardeu-me um desejo incontrolável de amá-la.

Distante e linda, alheia e alhures

Você se ocupava colhendo uvas dulcíssimas

E eu, possuído de encanto, naquele rompante incendiário

Fiz do parreiral um santuário.



Se você soubesse

O tamanho de meu desespero

Deixaria cair aquela capa carmim

E ficaria vestida apenas chapeuzinho.

Por capricho posaria nua com a cesta de uvas na mão

E o poema seria literária solução.



Ipso facto pergunto qual o papel da poesia

Não fosse a possibilidade da magia?

Somente assim, eu poeta chinfrim

Ouso dominar o vento e mover a capa carmim

Até pousar meus olhos embevecidos na beleza imaginada

Cuja perfeição sob a luz do sol se faz revelada.



Mas sei que meu delírio de lobo mau

Esbarra numa realidade abissal.

Não fosse isso

Nem as demais barreiras do abisso

Meu texto seria apenas sonho em forma de poema


E meu poético desejo, tão somente, metafórico dilema. 


quinta-feira, 13 de julho de 2017

CHAPEUZINHO VERMELHO




Continuo aqui

Colhendo feixes de luz

Por entre as frestas das folhas

Das parreiras de minha imaginação.


Ao meu alcance,

Cachos de uvas maduras,

Dulcíssimas,

Convidam-me a provar delícias inimagináveis.


De repente, uma brisa suave

Me faz um carinho na face

Como se me sussurrasse

Lembranças de loucuras impublicáveis,

Vividas num verão passado.



Das sombras das lembranças

Sobraram esperanças.


Destarte,

De um feixe de luz faço um laço

E do nó do meu desassossego

Invento a possibilidade do abraço.


De repente, mágica mente,

Como num conto de fábulas

Vividas nas minhas insanas fantasias,

Chapeuzinho vermelho, adulta e feliz,

Me oferece uvas maduras, loucuras e poesias.


O poema se faz assim,

Alquimia de fantasia

Misturada com um pouco de realidade

E muito de mim.    








terça-feira, 11 de julho de 2017

RECADO POÉTICO




Velo teu sono

Com este verso

Feito de lúmens imaginários

Esculpidos com palavras colhidas

Num mosaico de pirilampos encantados.



Num painel de estrelas cintilantes

Escrevo teu nome impunemente

Com a certeza de que amanhã

Quando acordares

Apenas eu saberei

Que durante toda a noite

Estive ao teu lado e te beijei.



Acordarás linda e serena

Inocente de minha vigília

E ao leres este texto

Talvez nem perceba a poesia

Nascida de minha agonia.



terça-feira, 4 de julho de 2017

SONETO FEITO DE SOL




Nessas manhãs de frio invernal

Minh’alma se veste de melancolia

E me exige um mantra matinal

Em invocação ao calor da poesia.



Se densas nuvens pairam no céu

E nublado amanhece meu coração

Abro as janelas da mente, livres de véu,

E evoco as lembranças do sol de verão.



Sei que o universo conspira a meu favor

E as lembranças se tornam nítidas, reais.

A luz do sol ilumina e traz calor



E me restaura com o brilho que me seduz.

Assim, de repente, sob a magia de êxtases sensoriais,

Me acontece a poesia, trazida num simples feixe de luz.     

VOLTANDO A FALAR DE SONHO

Sonho é matéria invisível Igual carícia de vento Pode ser lembrança vivida Ou coisas que invento. Quando meu coração Acorda sorrindo E diz...