quarta-feira, 31 de maio de 2017

JANELA DA FOTOGRAFIA




A musa não imagina
O tamanho de minha alegria
Quando meus olhos flagram
Sua beleza iluminada de lua
No corpo da fotografia.

Soubesse ela a dimensão
De meu louco encantamento
Mais e mais vezes se mostraria
Seja vestida de sol, de lua, ou nua no pensamento.

O brilho do olhar
A delicadeza da tez
A boca cuidadosamente desenhada
Pintura de beleza que realidade se fez.

No jardim de meus pecados
Uma moldura de folhas da parreira
Não serve de barreira
Para separar o poeta da uva desejada.

Vencido pelo desejo e ilusão
Vou tocando a foto devagar
Acaricio com cautela a pele das folhas
Bem de leve, para Eva não se assustar.

Ajudado pelos deuses da mitologia
Pela janela da fotografia vou entrando
Não há mistério, só magia
E mais próximo do monte de Vênus vou ficando

De repente, como se fosse normal
Meu corpo atravessa inteiro a fotografia
Como se fosse o vão de uma janela abismal
Onde Eva musa sorri inocente exalando poesia.

Sem dizer palavra ela me pega pela mão
E sai a me mostrar o jardim e seu pomar
E eu, paralisado de êxtase e emoção
Nada digo e a sigo com o falo a latejar.     

quinta-feira, 25 de maio de 2017

SOBRE A DIFERENÇA ENTRE POESIA E POEMA


SOBRE A DIFERENÇA ENTRE POESIA E POEMA


No ofício da arte de escrever, às vezes, somos surpreendidos por questionamentos ou comentários inusitados. Comentários bons e comentários maus. Leia-se maldosos. Já fui surpreendido por comentários maus, sobre os quais não quero falar agora, mas hoje fui pego de surpresa por um questionamento bom, muito bom.
Ao ler o mais recente poema de minha autoria, RITUAL DE SEDUÇÃO, publicado no meu blog, uma amiga me perguntou: “Almáquio, quando é poema e quando é poesia”. De pronto compreendi que ela havia lido, anteriormente, outro poema de minha autoria, POESIA e POEMA, publicado recentemente no blog. A dúvida é pertinente, pensei. E resolvi respondê-la aqui, com este texto.
Para explicar vou usar alguns versos do poema POESIA e POEMA. Veja:

A poesia está posta naturalmente
Em todos os lugares
A preços populares
Mas o poema não.

Quando eu digo que “a poesia está posta naturalmente em todos os lugares” quero dizer que ela existe, de forma natural, sem que alguém a faça existir.
É o caso da beleza de uma paisagem. Ela é bela independentemente de alguma pessoa perceber, ela existe por si só. Isso é a poesia. Ela existe, é imaterial. Por isso que

No silêncio do casulo
Sem alegria, sem festa
A poesia, por si mesma, se manifesta.

Mas a poesia também é subjetiva, ou seja, o que é belo para um, pode não ser belo para outro.

Entretanto ela passaria invisível
Se nenhuma alma sensível
Percebesse que na dor da transformação
Acontece a magia da beleza em formação.

Além de subjetiva, minha amiga, poesia é sentimento e somente se manifesta nas almas sensíveis. Por isso a poeta Adélia Prado escreveu o belíssimo verso:

De vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo.”

Veja que verso maravilhoso e verdadeiro. Tem pessoas que só veem pedra. Não há sensibilidade nelas. A vida dessas pessoas é pedreira e por isso são embrutecidas e ficarão cada dia mais embrutecidas, até terem seus corações (sentimentos) fossilizados. Por isso não choram, não sorriem, não se emocionam, não se encantam. Transformam-se em pedras.

Isso é poesia, minha querida. Este impactar-se diante das coisas.


Já o poema não está posto
De forma tão natural
Poema exige labor humano
E só acontece quando
O Poeta
Impactado pela magia da metamorfose
Transborda seu encantamento
E registra em versos
A emoção que o comove.

O texto formalizado, a estrofe, o verso, isso é o poema. É a parte concreta que exige o trabalho do poeta.
Não quero te confundir, mas saiba que existem versos que não tem poesia, assim que há poesia sem versos.
O encantamento diante de uma música, de um quadro pintado por um artista, diante de um gesto solidário, diate de uma cena qualquer como, por exemplo, uma flor nascendo no asfalto como poetizou Drummond, tudo isso tem poesia.
O poema é tão somente a percepção do poeta que capta a emoção e a materializa com palavras, com ou sem rimas, mas nunca sem magia.
Obrigado por sua pergunta e por ser minha leitora.

Almáquio Bastos, 25/05/2017


quarta-feira, 24 de maio de 2017

RITUAL DE SEDUÇÃO




Quem me dera ser vaga-lume

E vagar, ainda que devagar

Divagar por exóticas sendas

E a mando do amor brilhar.


Soubesse você que minha luz

É desejo aceso, é labaredas de vulcão

Saberia que meu luminescente brilho

É tão somente reflexos de tesão.


Sou poeta pirilampo que nunca se cansa

De cantar a fêmea beleza da Vênus da ilusão

E por isso o brilho que veloz avança

Em mágico e louco ritual de sedução.


Só de imaginar a formosura da flor

Banhada pela outonal luz de luar

E pensar as nuas pétalas lindas e orvalhadas

Lambidas pela brisa do mar…



Só de imaginar a escultura de rara beleza

Maravilhoso desenho em asas de borboleta

A pérola no entalhe, rico detalhe de realeza

Xilogravura de luz, metafórica flor em silhueta…


Só de imaginar a forma e o aroma impregnado

Na desejada caixa de Pandora livre alhures na escuridão

Meu sabre de luz (exclusividade da ordem Jedi)

Risca o negro véu para espantar a minha solidão.          

segunda-feira, 22 de maio de 2017

CALEIDOSCÓPIO DE ILUSÕES





Quando decido galopar
Em meu alazão de devaneios
Entrego-me por inteiro
Sem medos, sem receios.
 

No desvario de minha liberdade
Sou, antes de tudo, poderoso cavaleiro
Que cavalga no tropel da imaginação
Pelas sendas da criatividade.


A poesia me confere a honraria
De ser mais do que realmente sou
Lancelot de minha confraria
Minha espada deixa marcas por onde vou.


No caleidoscópio de minhas ilusões
A luz do sol reflete o brilho da magia
Ser ou não ser é o cerne das questões
Quando se vive no reino da fantasia.


Sendo eu assim, poeta chinfrim
Que deseja ser grande cavaleiro
Melhor admitir bravura de alfenim
Que arvorar bravura de guerreiro.


sexta-feira, 19 de maio de 2017

DIÁLOGO ÍNTIMO



Às vezes me pergunto se sou feliz
Mas antes que eu me responda
O sol invade a janela de meus pensamentos
E esparrama réstias de luz
Nos cantinhos escuros dos sentimentos.

Do nada
Sinto uma brisa furar o cerco da
Cortina entreaberta
E acariciar meu rosto com suavidade feminina.

Enternecido,
Mas ainda confuso,
Lembro-me da beleza alegre de seu sorriso e me derreto.

Subtamente minto
Sobre a ternura que sinto.
Mas a leveza é tamanha
Que esqueço a pergunta
Que a mim mesmo, diversas vezes, fiz.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

FREUD EXPLICA





Quando uma mulher vai escolher
Uma calcinha na gaveta
E demora mais tempo que o habitual,
Certamente,
Está na iminência de algum evento especial.
A demora na escolha da lingerie
Revela o nível da expectativa
Capaz de fazê-la sorrir.

A preocupação com o detalhe da renda,
Da cor e textura
Tem fetiche e alquimia com sabor de travessura.

Freud não explicaria
Se a psicanálise não singrasse
No universo da alma feminina,
Águas de misteriosas de mágicas fantasias.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

RECADINHO PARA MINHA FLOR





Preciso de ti

Não pelo que eu possa oferecer

(Muito pelo contrário)

Preciso de ti

Pelo que eu possa receber.



Sou pássaro pequenino

Meu trabalho é beijar, beijar e beijar

A cada pouso na flor - meu oficio traquino -

Cumpro a missão de polinizar.



Preciso de ti e de tua deliciosa seiva

Bálsamo de minha alegre sustentação

Teu sabor e delicada beleza

É inesgotável fonte de inspiração.



Soubesse eu fazer outra coisa

Ainda assim de ti não desistiria

Triste é o beija flor que não tem flor

De tédio, certamente, morreria.

sábado, 13 de maio de 2017

AMORE MIO PRECISO DE TI




Preciso do verbo desejar
Sem a urgência
Das necessidades formais.


Preciso de ti sem a agonia
Do compromisso agendado
Com horário marcado
Na saga diária dos afazeres.

Na lida dos dias
Sempre conte comigo
Mas eu preciso de ti
É para os prazeres.

Se a porta emperrar
Se a tampa do vidro com azeitonas não abrir
Se a resistência do chuveiro queimar
Se a torneira da pia quebrar
Meu nome é pronto
Estarei sempre perto
Para te ajudar.
Contudo, sei que nada disso te prenderia a mim.

Por isso preciso de ti para os prazeres  
E altas aventuras.

Preciso de ti para abrir cortinas no horizonte
Ficar de mãos dadas olhando o mar
Ou, no final do dia, após o trabalho,
Sentar juntos na varanda, olhar a lua,
E fazer planos para o pomar.


Preciso de ti para manter a calma na tempestade
Vencer as intempéries da idade
E nunca desaprender a sorrir.

Na fábula dos meus desejos
Sou ave de arribação
Preciso de ti para viver o verão
Qualquer que seja a estação.

Mas se a ti apetecer ficar
Pra sempre no nosso jardim
E quiseres brincar de ser flor
Basta a mim ser beija flor.

VOLTANDO A FALAR DE SONHO

Sonho é matéria invisível Igual carícia de vento Pode ser lembrança vivida Ou coisas que invento. Quando meu coração Acorda sorrindo E diz...