terça-feira, 12 de março de 2019

VOLTANDO A FALAR DE SONHO


Sonho é matéria invisível
Igual carícia de vento
Pode ser lembrança vivida
Ou coisas que invento.

Quando meu coração
Acorda sorrindo
E diz que nada aconteceu
Sei que está mentindo.


Sabemos que segredos revelados em sono
Nem sempre são bem comportados
Preferível coração continuar mentindo
Do que poeta ficar mal falado.

terça-feira, 5 de março de 2019

SESSENTANEIDADE



Outra vez ouvi 
Os galopes dos corcéis
Em mais um fevereiro fugaz.

Lembro-me que nos fevereiros 
Da minha longínqua infância
Os corcéis passavam numa Vagareza madorrenta
Trotando os dias 
Em tardes sonolentas.

Agora não,
Eles passam lépidos,
E mal chegam e já os vejo
Pelas costas, 
Deixando no ar uma poeira
Com cheiro de transitoriedade.

Mas estou feliz,
Aliás, muito feliz, porque
Não obstante a pecha
De me tornar um sexagenário,
Cumpro com virilidade
A rotina das expectações
Da maturidade.

Hoje posso dizer
Que me encontro pleno.
Inteiro em minhas metades somadas
Como meta da idade
Na plenitude da maturidade.

Se eu me encontrasse
Comigo mesmo 
Antes do momento da sobriedade
Com certeza não faria justiça
À outonal idade.

Que bom estar assim
Sem obrigações de cumprir metas
E estatísticas 
Apenas para satisfação alheia.
Agora posso transitar nas limitações reais da minha hominidade
Sem o peso das cobranças 
Da vil sociedade.

E livre do jugo
Julgo-me liberto da opressão
Completamente desapegado
Da farsa da perfeição.

Que delícia
É estar assim
Atado às asas de um beija-flor
E ter sobre os ombros
Apenas o peso da primavera
E a capacidade de voar
Como um condor.

Se a poesia me habilita
A uma medium/imunidade
Sinto muito pelos niilistas
Que são tristes e desdenham
Da juvenil efervescência
Possível na "terceira idade".






02/03/2019





segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

BODAS DE CEDRO

As muitas águas não poderiam apagar esse amor nem os rios afogá-lo.
Cant. 8:7






Uma história não se escreve
Apenas com palavras
Às vezes precisamos usar silêncios
Lágrimas, angústias, dúvidas
E uma variedade de outros materiais
Que não cabem neste poema.
Mas um ingrediente indispensável
Na construção de qualquer história
Além do amor
É o Tempo.

Tempo, tempo, tempo...

Tempo serve como emplastro
Para curar ferimentos
Tempo serve como tempero
Para dar sabor  às conquistas
Longamente esperadas
Tempo serve como fiel
Para balizar
O que realmente vale a pena cultivar.  
Tempo também tem o poder de transformar
Informação em conhecimento
E conhecimento em sabedoria.

Somente com o passar dos anos
Aprendemos a dar valor
Em pequenas coisas
Que na juventude
Parece-nos perda de tempo.





Na nossa história, cheia de versos
Inspiro-me na força resistente do cedro
Que não se verga frente às intempéries
E força de ventos adversos.

A dois,
Passo a passo
Ano a ano
Apreendemos
Que trinta e seis anos juntos
Merece cada brinde
Feito com café quentinho
Tomado a cada manhã
Para agradecer a Deus
Um novo amanhecer.



sábado, 20 de outubro de 2018

III

Descanso minha pena
Em um tinteiro vazio.
Se não há escrita
Silenciosa será a desdita.
Quanto aos poemas
Que estavam em gestação
Pouco importam os temas.
Sem sementes, sem floração.
(Poemas Avulsos)
III

Não me acostumo
Com o silêncio de inspirações
E a Ausência de tempestades.
Quando o coração de um poeta se cala é sinal que a alma está vazia.
Prefiro a turbulência
Dos ruídos de ventos uivantes
E a inquietude
Verbal das paixões alucinantes.
Poesia de calmaria
(Às vezes)
Assemelha-se a uma lápide fria.


(Poemas avulsos)
II

Desconheço meus limites
Quando me entrego à poesia.
Agora há pouco
Por pouco
Eu faria de uma metonímia
Meu quinhão de alegria.
Meus cabelos brancos
Carregam um milhão de ideias.
No meio do nada sou nada
Fazendo poesias,
Mas nado de braçada
Colorindo fantasias.

(Poemas avulsos)

I

Não escrevo poemas à toa.
Quando escrevo
Falo para outrem
Ou talvez fale para mim,
Não sei.
Agora, por exemplo,
Estou pensando em você,
Mas também em mim.

Hoje vi seu difuso brilho
Crepuscular
E pensei, por que não homenagear?
Saiba, ó improvável lua de outubro,
Meu desejo é que este poema
Atravesse a nuvem desta primavera
De saudades
E diga-lhe que este poeta
Tem em si a alma encantada.
Lua ó lua!
Meu maior desejo
E ver você inteira mente nua.

VOLTANDO A FALAR DE SONHO

Sonho é matéria invisível Igual carícia de vento Pode ser lembrança vivida Ou coisas que invento. Quando meu coração Acorda sorrindo E diz...