terça-feira, 21 de junho de 2016

SOBRE AMOR, ABRAÇOS E POESIA




Cada poema que escrevo
Me escreve antes de eu escrevê-lo.
É como se a obra produzisse o obreiro.
Não que eu seja tardo em saber o que sou,
Mas a poesia só vai fazendo sentido
A medida que vai sendo vivida.

Às vezes, o texto, antes de ser pretexto é contexto.

Por isso, quando falo de amor,
Não falo apenas do que estou sentindo,
Mas sinto e falo o que me faz sentido.

Quando te abraço,
Quero dizer mais que: há braços!
Quero dizer que amar é algo que não sei dizer,
Mas cabe no meu ato de te envolver. 

segunda-feira, 20 de junho de 2016

SOLTÍSCIO DE INVERNO



Nesta noite de início de inverno
Terei mais tempo para a poesia.
Anseio que sob a benção da lua cheia,
O élan
Visite minha alma pisciana
Até eu sentir a brisa do lirismo
Acariciar meu rosto cheio de humanidade e esperança.

Se a poesia se concretizar,
Amanhã de manhã,
Assim que a passarada matutina,
Que visita meu quintal todos os dias ,
Iniciar as algazarras habituais,
O sol fará suave  "toc-toc"  na janela de meu quarto,
Sussurrando “bom dia”,
E eu, pequeno sonhador que sou,
Saberei que algum dia,
Serei do tamanho do meu sonho,
E maior que minha poesia.    



sexta-feira, 17 de junho de 2016

MEUS SEGREDOS



Meus segredos, escondo-os na medula das palavras mimetizadas entre sílabas tônicas e átonas que vem a tona enfileiradas em frases de efeitos feitos de entre aspas e reticências. Nunca minto sobre o que sinto. Sempre sou a favor da verdade, mesmo sabendo que me tira a liberdade. Quando digo que a quero, não falo apenas pelo falo, mas pela palavra que lavra a verdade intrínseca e risca o fósforo de incendeia a teia das ideias. Agora por exemplo, escrevo seu nome no epicentro do pensamento como se a tinta jorrada nas abas da imaginação pudesse acalmar o clamor da intenção. Quando meu desejo é escrito a mão, o ato não mata minha vontade de você, mas engana minha necessidade de escrever.   

quinta-feira, 16 de junho de 2016

SOLILÓQUIO



Às vezes preciso de silêncio para me encontrar. Não raro, me busco nas dunas de meu hemisfério interior, onde apenas se ouve o ecoar dos pensamentos insistentes que não desistem de me acompanhar.  Quando me encontro a sós, empilho grãos de areia na palma da mão e escrevo seu nome no chão. Mas logo sopra o vento estraga prazer e apaga seu nome que acabei de escrever. Imediatamente, inverto a ampulheta ancorada num vão que não vi e ganho minutos de saudade na prorrogação. Não sei o que faria se não pudesse ficar a sós comigo. Estou certo que no epicentro do turbilhão é impossível ouvir qualquer canção. Sou adepto do diálogo, mas não abro mão do solilóquio. Por tudo isso, no final do dia quando é decretada minha alforria, busco o refúgio da varanda de meus devaneios. Ali eu sou eu por inteiro, poeta despido de tudo que me amarra, artífice de minha própria escultura, que na saudade de ser o que se deseja ser, faz do sonho a sepultura.         

quarta-feira, 15 de junho de 2016

BOLERO DE RAVEL





Há muito aprendi ler seus pensamentos
E sei o que sente ou deseja muito antes de você falar.
Agora, por exemplo, sei que ao ler este início de poema,
Você vai disfarçar um sorriso malicioso
E guardar, em silêncio, uma vontade de me dizer
Ao pé do ouvido: “safadinho!” para ninguém escutar.

__Não adiante negar.
__Outra coisa:

Na penumbra do quarto,
Quando seu corpo nu, sobre a cama, em claro sinal de rendição,
Está ao alcance de minha boca,
Sei que você vai fechar os olhos,
Mas seus pelos eriçados e seus lábios intumescidos
Denunciarão que você amou, de véspera,
A agonia deliciosa da espera do beijo.

Sei ainda que quando você sentir
A força metafórica de meu poema  
Penetrar seu universo metalinguístico,  
Você vai ouvir bolero de Ravel
Num crescente contínuo,
De tal forma que, 
Quem nunca ouviu jamais vai entender
E quem já ouviu nunca vai conseguir explicar.

Sei de tudo isso
Porque poeta é meio bruxo.


Por fim, sei que no texto e no contexto,
Após me ler e reler diversas vezes,
Você vai querer caminhar nua e descalça
Sobre os rastros de luz das estrelas,
Esparramados no leito da imaginação,
Sem se importar se o amanhã é uma segunda-feira.

É assim que é.
Sou poeta. 
Eu sei.

terça-feira, 14 de junho de 2016

POEMA SEM TÍTULO





Enquanto você dorme,

Escrevo este pequeno poema.



No silêncio, distraio-me contando estrelas cintilantes

Na abóbada de meus pensamentos

E, o mesmo tempo, velo seu sono tranquilo,

Certo de que dormindo não se lembra deste poeta

Nem do oásis de fantasias que alimentam minhas poesias.



Mas estou certo que amanhã pela manhã,

 Ao abrir os olhos e ver as réstias de sol

Trespassando as cortinas de sua janela,

Vai se lembrar de tudo

                                     e mais um pouco

                                                                    e de mim,

Porque magia poética é assim,

Faz a gente sentir o que nunca pensou sentir

E lembrar o que não sabia existir.


VOLTANDO A FALAR DE SONHO

Sonho é matéria invisível Igual carícia de vento Pode ser lembrança vivida Ou coisas que invento. Quando meu coração Acorda sorrindo E diz...