segunda-feira, 26 de outubro de 2009

CASSETADA POÉTICA



Tenho aprendido muitas coisas com o silêncio, inclusive domar palavras. Quando me recolho, percebo que, pouco a pouco, os sons vão se diluindo, diluindo, até restarem somente aqueles que são imperceptíveis no caos da normalidade. É aí que surgem as palavras que precisam ser domadas. Elas surgem do nada, lambuzadas de significados equivocados, arrogantes. A primeira coisa que faço é despi-las, retirar aquela roupagem manchada, cheia de nódoas e mágoas, para depois lavá-las. Torná-las isentas. Não é fácil, muitas se rebelam e não aceitam o tratamento. Semanticamente, já estão tão contaminadas de tal forma que o significado original não lhes cabem. Nesse caso, melhor deixá-las assim mesmo, travestidas.
Foi em num desses meus recolhimentos que levei uma surra. O caos da normalidade estava me impedindo de perceber que amar é sentimento, mas, também é atitude. A cacetada, ou melhor, a Paulada, veio neste poema de Paulo Leminsk:



objeto
do meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo


seja estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza



faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
seja

Um comentário:

  1. Papy, ameeei esse texto. Adorei a frase: Tenho aprendido muitas coisas com o silêncio, inclusive domar palavras.
    *-*
    te amo

    ResponderExcluir

VOLTANDO A FALAR DE SONHO

Sonho é matéria invisível Igual carícia de vento Pode ser lembrança vivida Ou coisas que invento. Quando meu coração Acorda sorrindo E diz...