sábado, 3 de dezembro de 2016

POEMA NÃO ESCRITO




Quando escrevo um poema
Vou juntando cacos ao acaso
Fragmentos de anseios e receios
E vou colocando-os
caco por caco
Palavra por palavra
No corpo de cada verso.

Entretanto
 Há poemas que não podem ser escritos

Eles existem
Independentemente
Em formas diversas de versos
E não cabem no universo
Da linguagem escrita

Poemas dessa natureza
São como a garoa que cai na madrugada
E não se vê a não ser
Nas pétalas da flor que não quis se proteger

São versos imateriais
Que exalam aroma de poesia
Sem letras
Sem palavras
Sem explicações

São poemas construídos
Com matizes de sensações
fruto de peripécias homéricas
Atadas ao novelo de nós
Guardadas no baú de elucubrações

Lembranças de pele roçando pele
Emanando cheiros de essências naturais
Misturados ao sabor de beijos indomados
No enleio de lábios e línguas sem freios

São poemas sem rimas
Sem letras
Que retratam o indizível
O inexplicável

Poeta que sou
Padeço da deliciosa agonia
De escrever e descrever
O que não se pode ler. 


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