segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

LOUCA SERENIDADE




Conheço pessoas que acham estranha
Minha paixão por orquídeas.
Elas falam assim:
Esse negócio de orquídeas, poesias, sei não...
E soltam uma gargalhada de perdoável deboche.

Eu rio 
Porque sei que é tudo brincadeira.
Não acredito que haja maldade
Na declarada falta de sensibilidade.
Para mim o tempero das coisas
E que faz toda diferença
É o delicado sabor da diversidade.

Muitas são aqueles
Que pensam que os verdadeiros poetas
Estão mumificados dentro dos Antigos livros de história.
Quem assim pensa  jamais compreenderia
Como em pleno século vinte e um
Uma pessoa comum
Possa criar seu próprio oásis.

Essas pessoas se assombrariam  
Se me vissem cavalgar no lombo de cometas
Livre das amarras sociais
Colhendo brilho de estrelas com os olhos
Fazendo mil estripulias em inimagináveis alturas
Só para provar o cheiro e o tempero das uvas de Baco
Em deliciosas e insanas aventuras.

Aos que incompreendem
Minha suposta excentricidade
Digo que uma parte de mim é moldada pela razão. 
Homem comum, caseiro, casado
Servidor público a paisana ou fardado.

O outro ser que sou é moldado pela emoção
Um eu que não cabe inteiro em mim.
Se minha face razão é raiz que me crava ao chão
Meu lado poeta é meu Shangri-la, paraíso sem fim.

Nesse mundo paralelo, oásis de alegrias
Sou domador de cavalos alados
Odisseu desbravador de mares bravios
Minha saga é fazer das peripécias minha poesia.
 
Por isso amo as orquídeas em sua inexplicável  beleza
Elas me libertam da opressão da urgência que nos mata
Florescem ao seu tempo e se impõe com delicadeza
Como encanto de mulher cuja delicada magia nos ata.

Assumo minha identidade paradoxal
Ora sou raiz, cravado ao chão de mim mesmo
Ora sou ave de arribação preso ao sul infinito pela emoção.

Assim, dividido entre mito e realidade
Vou cultivando minhas orquídeas
Com minha louca serenidade. 


* Foto do meu acervo pessoal, orquidea fotografada por mim em meu quintal. 


Décimo terceiro poema do desafio #quaresmapoética
26.02.2018

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