Não gosto de medir palavras
Para falar de paixão.
Na construção imagética das alegorias
Quando o tema é travessuras
Vale palavra, palavrinha, palavrão.
As formalidades que nos encaixotam,
Apesar de necessárias, tolhem a liberdade
E castram o gene da criatividade.
Todavia, em toda via há contramão.
Não sou transgressor por natureza
Muito pelo contrário.
Desde cedo aprendi a cumprir
Os ritos da moralidade, mas
Não desisti do meu instinto revolucionário.
Agora, por exemplo,
Não estou sendo bom exemplo
Porque transito na via contrária
À da “boa educação”.
Basta-me um lampejo de feminina beleza
Para acender em mim a pira da poesia
E meu espírito de realeza.
O desejo de tão teso
Torna-se tesão.
Ao contemplar tua fotografia,
Gravada na moldura de minha memória
Perco as estribeiras e a boa ortodoxia.
Opto pela alegria das alcovas e
Faço festa nas trincheiras da fantasia.
Saiba que quero tua boca na minha
E todas as possibilidades de beijos.
Também quero ver teus olhos acesos
Fitos no volume indisfarçável do meu desejo.
Depreenderei do teu admirável espanto
O encanto que escapar de teu olhar
E no teu silêncio altissonante
Colherei palavras que não poderei publicar.
Aproveitarei teu instante de catarse
Ante a visão da espada de Teseu
E a terei totalmente dominada
Presa sem pressa de libertar-se.
Em outras palavras
Quero tua belíssima nudez
Na brancura dos lençóis
Como se Baco tivesse preparado
Um banquete para nós.
Como na poesia tudo é possível
Transporto-me para o oásis imaginado
E te encontro lindamente nua
Na penumbra do shangri-la
desejado.
Proponho-te uma festinha em braille
E antes que me digas “não”
Cubro teus olhos com uma venda
Deixando-te à mercê da imaginação.
Deitada em posição dorsal
De olhos fechados olhando o céu
A cabeça apoiada sobre o travesseiro
É dado inicio ao ritual de levitação.
Teus olhos não veem
Mas teu corpo sente
O sabor do meu corpo
No encontro de bocas nada inocentes.
Beijo-te com ternura.
Beijo-te com loucura.
Ora com singeleza de beijo inicial.
Ora com a volúpia de beijo sexual.
Amo perceber a alegria irreverente
De teus mamilos eriçados
Quando são sugados.
Sinto o arrepio de tua pele
Roçar minha língua num carinho delirante
Quando passeio as sendas proibidas
Desvendando teus mais íntimos segredos.
Em teu umbigo
Uma parada obrigatória.
Minha língua vasculha
A pequena fundura
Como se procurasse um novo hímen
Na perfeição da escultura.
Abro tuas pernas com delicadeza
De poeta enfeitiçado pela beleza
E percebo tua intenção
De retirar a venda dos olhos
Mas digo: ainda não!
A penumbra do quarto
Não esconde a formosura da orquídea entrepernas.
Na minha declaração de amor mais sincera
Eu poderia usar palavras formais e delicadas
Ou cantar meu amor numa clássica opereta,
Ao invés disso, digo simplesmente:
Eu amo tua buceta.
Ah, quanto prazer ao pronunciar
A palavra perfeita
Para designar com fiel intensidade
Essa magia impossível de explicar.
Quedo-me extasiado ante a beleza da fenda
Ao olhar os grandes lábios como uma moldura.
Acaricio com a língua a profundidade da senda
E sinto na boca o sabor da tua gostosura.
Observo tuas mãos crispadas no lençol
Como se a espera fosse uma longa agonia
Abro um pouco mais as tuas pernas
E percebo a umidade da racha anunciando poesia.
Não nego que amo olhar a riqueza de detalhes
Da ostra entreaberta como se fosse uma flor sem pudor.
Teu clitóris, pérola rosada, sensível enfeite do entalhe
Sem saber que é o epicentro do esplendor.
Venha voar comigo paisagens inimagináveis.
Vamos brincar de escorregar no arco íris
Ouvir bolero de Ravel
Bebendo Cabernet
Sauvignon
Sem máscaras, sem vendas, sem véus.
Meus braços serão tentáculos
Unindo meu corpo ao teu.
Universos diversos sem obstáculos
Destinos entrelaçados pelo abraço
Fio de Ariadne na saga de Teseu.
Não me leves a mal
Quando tirares a venda da abstração.
Ainda que finjas estar inocente
Deixe-me levá-la aos píncaros do Zênite
Permita-se surfar na ponta do trovão.
E nessa penumbra de obscenidade
Depois de amar e ser amado
Quero adormecer ao teu lado
E este poema será o totem da minha sinceridade.