quarta-feira, 28 de março de 2018

CONSTELAÇÃO DE ÓRION




Teu olhar e teu sorriso
Tem brilho de estrelas
Constelação de Órion
Ao alcance de minha mão.

Como justificar
O enigma do encantamento
Quando todo o firmamento
Cabe inteiro em teu olhar?

Não tenho razoável explicação
Para essa louca sobriedade
Tento entender a lucidez da ilusão
Na fusão de mito e realidade.

És minha musa, minha obsessão
Meu Sol, minha lua, meu pomar.
Oásis de minha idílica paixão
Inspiração para meu poetizar.

O poeta que em mim existe
Transcende a pessoa que sou
Se minha poética subsiste
Devo a ti, deusa de meu louvor.

Não me negues teu brilho de estrelas
E toda a enigmática magia
Dá-me teu sorriso e teus beijos
Elã vital para minha poesia.

OBSCENIDADES POÉTICAS




Não gosto de medir palavras
Para falar de paixão.
Na construção imagética das alegorias  
Quando o tema é travessuras
Vale palavra, palavrinha, palavrão.

As formalidades que nos encaixotam, 
Apesar de necessárias, tolhem a liberdade
E castram o gene da criatividade.
Todavia, em toda via há contramão.

Não sou transgressor por natureza
Muito pelo contrário.
Desde cedo aprendi a cumprir
Os ritos da moralidade, mas
Não desisti do meu instinto revolucionário.

Agora, por exemplo,
Não estou sendo bom exemplo
Porque transito na via contrária
À da “boa educação”.
Basta-me um lampejo de feminina beleza
Para acender em mim a pira da poesia
E meu espírito de realeza.
O desejo de tão teso
Torna-se tesão.

Ao contemplar tua fotografia,
Gravada na moldura de minha memória
Perco as estribeiras e a boa ortodoxia.
Opto pela alegria das alcovas e
Faço festa nas trincheiras da fantasia.

Saiba que quero tua boca na minha
E todas as possibilidades de beijos.
Também quero ver teus olhos acesos
Fitos no volume indisfarçável do meu desejo.

Depreenderei do teu admirável espanto 
O encanto que escapar de teu olhar
E no teu silêncio altissonante 
Colherei palavras que não poderei publicar.

Aproveitarei teu instante de catarse
Ante a visão da espada de Teseu
E a terei totalmente dominada
Presa sem pressa de libertar-se.

Em outras palavras
Quero tua belíssima nudez
Na brancura dos lençóis
Como se Baco tivesse preparado
Um banquete para nós.

Como na poesia tudo é possível
Transporto-me para o oásis imaginado
E te encontro lindamente nua
Na penumbra do shangri-la desejado.

Proponho-te uma festinha em braille
E antes que me digas “não”
Cubro teus olhos com uma venda
Deixando-te à mercê da imaginação.

Deitada em posição dorsal
De olhos fechados olhando o céu
A cabeça apoiada sobre o travesseiro
É dado inicio ao ritual de levitação.

Teus olhos não veem
Mas teu corpo sente
O sabor do meu corpo
No encontro de bocas nada inocentes.
Beijo-te com ternura.
Beijo-te com loucura.
Ora com singeleza de beijo inicial.
Ora com a volúpia de beijo sexual.
 
Amo perceber a alegria irreverente
De teus mamilos eriçados
Quando são sugados.
Sinto o arrepio de tua pele
Roçar minha língua num carinho delirante
Quando passeio as sendas proibidas
Desvendando teus mais íntimos segredos.

Em teu umbigo
Uma parada obrigatória.
Minha língua vasculha
A pequena fundura
Como se procurasse um novo hímen
Na perfeição da escultura.

Abro tuas pernas com delicadeza
De poeta enfeitiçado pela beleza
E percebo tua intenção
De retirar a venda dos olhos
Mas digo: ainda não!

A penumbra do quarto
Não esconde a formosura da orquídea entrepernas.
Na minha declaração de amor mais sincera
Eu poderia usar palavras formais e delicadas
Ou cantar meu amor numa clássica opereta,
Ao invés disso, digo simplesmente:
Eu amo tua buceta.

Ah, quanto prazer ao pronunciar
A palavra perfeita
Para designar com fiel intensidade
Essa magia impossível de explicar.

Quedo-me extasiado ante a beleza da fenda
Ao olhar os grandes lábios como uma moldura.
Acaricio com a língua a profundidade da senda
E sinto na boca o sabor da tua gostosura.

Observo tuas mãos crispadas no lençol
Como se a espera fosse uma longa agonia
Abro um pouco mais as tuas pernas
E percebo a umidade da racha anunciando poesia.

Não nego que amo olhar a riqueza de detalhes
Da ostra entreaberta como se fosse uma flor sem pudor.
Teu clitóris, pérola rosada, sensível enfeite do entalhe
Sem saber que é o epicentro do esplendor.

Venha voar comigo paisagens inimagináveis.
Vamos brincar de escorregar no arco íris
Ouvir bolero de Ravel
Bebendo Cabernet Sauvignon
Sem máscaras, sem vendas, sem véus.

Meus braços serão tentáculos 
Unindo meu corpo ao teu.
Universos diversos sem obstáculos
Destinos entrelaçados pelo abraço
Fio de Ariadne na saga de Teseu.  

Não me leves a mal
Quando tirares a venda da abstração.
Ainda que finjas estar inocente
Deixe-me levá-la aos píncaros do Zênite
Permita-se surfar na ponta do trovão.

E nessa penumbra de obscenidade
Depois de amar e ser amado
Quero adormecer ao teu lado
E este poema será o totem da minha sinceridade.   




terça-feira, 27 de março de 2018

PERSPECTIVA




Eu poderia até olhar
O mundo que me cerca
Com outros olhos
Mas como seria triste
Ver as coisas
E não enxerga-las.

Exemplo:

Teus lábios
Em sorriso esculpido
Irradiando fulgurante beleza
Seria apenas
Uma boca sorrindo.
Nada mais.

sábado, 24 de março de 2018

CAÇA-PALAVRAS

Sente-se ao meu lado
Para brincar de caça-palavras.
Coloque todas as palavras juntas sobre a mesa e depois separe uma a uma, de acordo com o sabor. 

As palavras amargas, com gosto de rancor, inveja e maldizeres
São as primeiras que devem ser separadas porque contaminam o sabor das outras e devem ser exiladas.
Deixe-as trancadas na gaveta do esquecimento porque elas evocam sentimentos que não vale a pena cultivar.

As palavras sem sabor, insípidas, que parecem nada acrescentar, separe-as também. 
A indiferença é o nome do veneno que elas contém.
Não as use em sua vida
Porque elas provocam feridas
Difíceis de cicatrizar.
Tranque-as na gaveta
Do isolamento, isso vai fazer bem a você e aos outros também.

Por fim ficarão sobre a mesa
As palavras doces, amenas, cordiais, temperadas com o sabores
Saudáveis e fundamentais.
Algumas delas, talvez, estavam esquecidas no fundo da caixa
Das relações
E por falta de uso pareciam não mais ter sabor.
Coloque-as lado a lado
E veja como são bonitas
E o aroma que delas emana
Alegra a alma de quem as proclamam.
Quando elas estão no coração
Formam frases de amor, cumplicidade e perdão.

terça-feira, 20 de março de 2018

SERENIDADE OUTONAL



Outonarei
Com a serenidade que o momento requer.
Hoje, último dia deste verão
Penso na fugacidade
Do ciclo das estações
Sem perder de vista
O desejo pelo fruto temporão.

Bobagem tentar antecipar
O que é apenas possibilidade.
A vida não permite
Levar na bagagem

Fruto que ainda não se colheu.
As sementes semeadas
Somente serão "favas contadas"
Depois que muito se regou.

Neste outono
Regarei na memória
As sementes que plantei
Nas estações passadas.
Se alguma frutificar
Saberei valorizar com alegria
O momento da colheita que esperei.

Sou um poeta que sonha
Com outonos perfeitos.
Galhos pejados, frutos maduros
Deliciosos, tenros, sem defeitos.

Promessa que vejo cumprida 
Na beleza dos grandes gomos em exposição
E no sumo das primícias
Que escorre no canto da boca
No momento da degustação.

Quero este outono de fartura
Com gosto loucura e serenidade.
Mistura de entusiasmo juvenil
Com prudência e sabedoria da maturidade.

segunda-feira, 19 de março de 2018

ALFORJE DO APRENDIZADO




Escrevi
Com vívidas letras
Poemas que vivi
Outros que sonhei.
Se na mistura me perdi
Até nisso eu ganhei.

Caso no caminho eu feri
Saiba que sofri
Quando soube que fiz sofrer.
Guarde na lembrança
Tão somente
A poesia que escrevi em teu viver.

No alforje do aprendizado
Levo comigo muita saudade
E a certeza da sinceridade
Dos poemas que vivi
E também dos que sonhei.

domingo, 18 de março de 2018

POEMA VEGETAL




Uma flor
Por mais simples que seja
É um poema vegetal.
Até pessoas
Que não gostam de ler
Leem o poema vegetal.
Alguns exclamam encantados:
Que lindo!
Outros dizem, comedidamente:
Perfeito.
Há ainda aqueles
Que nada falam, mas leem e respeitam.
Entretanto também há
Aqueles que sabem ler
Mas são incapazes de perceber.
A esses, o meu pesar.

sábado, 17 de março de 2018

CAMINHOS E CAMINHOS


Há caminhos e caminhos
E todos levam a algum lugar.
Se à tristeza ou à saudade
Só se sabe ao caminhar.

Guardarei agora
Num embornal sujo de tempo
As lembranças que juntei.
E caminharei.

Amanhã, talvez
Quando longe eu estiver
Caso meu nome seja lembrado,
Espero que não seja como um nome qualquer
Ou algo parecido,
Mas que seja como o poeta que amou e foi amado.
Jamais como alguém que mereça ser esquecido.

A CAMINHO DE ONDE?

De maneira simplista, geralmente, pensamos em caminho referindo a distância, a espaço percorrido ou a percorrer. Sabemos que o horizonte ne...