terça-feira, 21 de janeiro de 2014

METAPOEMA


Prometi a mim mesmo
Não mais escrever poemas
Paridos sob a influência de Eros,
Mas, me traio
- E quedo-me embevecido -
Sempre que sou atingido por lampejos de fêmea beleza.

Quando me liberto das algemas do Relógio
É ao oficio de artífice do nada
Que dedico meu exílio.
No desterro, caminho de olhos fechados
Na superfície das lembranças.

O fazer poético
Não me exige cumprimento de horário,
Exige dedicação exclusiva.

Recluso em minha torre de holograma
Recolho das metafísicas gavetas
Os fragmentos de realidade colhidos aleatoriamente.
Por exemplo:
Vento brincando nos cabelos da amada,
Respingos de sorrisos impregnados na vidraça da memória, 
Ou uma simples contemplação da alegria
Solitária do zangão
Que faz festa nas vulvas das flores de maracujá
Em meu quintal nas manhãs de verão.
Tudo isso é matéria prima para minha poesia.



A vulnerabilidade dos poetas
Ante a beleza feminina
É lírica sentença
Por causa da magia
Emanada da Caixa de Pandora
Metamorfoseada
Em orquídeas guardadas
No vértice entre coxas das filhas de Eva.
Eis aí, o epicentro das ideias luminescentes
Que alimentam os outdoors do mundo.  

Assim, ao olhar meu espelho de lembranças
Vislumbro seu corpo de Vênus,
(Escondido sob levíssimo vestido esvoaçante)
Caminhando no paço dos deuses.
Súbito, meu eu lírico exclama mentalmente: Afrodite, Afrodite! 

Dominado pelo alumbramento,
Sinto quando o céu de minha mente
Ilumina-se com relâmpagos de poeticidade.

No exílio é assim:
A poética dos sentidos
Passa pela catarse.

Temeridade, porque sei que nem o mais exímio poeta
Consegue escapar, incólume,
De sua trincheira exílica.
O que dirá de mim,
Poeta chinfrim,
Nascido na terra do pequi.



Destarte, assim como Ulisses,
- Quando preso ao mastro do navio -
Debateu-se em desejos ao ouvir o canto das sereias,
Eu, fisgado por ígneos pensamentos,
Mesmo atado, vagueio aceso feito vaga-lume,
Nas sendas do enlevo.    


Almáquio Bastos, 21 de janeiro de 2014. 

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