quinta-feira, 16 de junho de 2016

SOLILÓQUIO



Às vezes preciso de silêncio para me encontrar. Não raro, me busco nas dunas de meu hemisfério interior, onde apenas se ouve o ecoar dos pensamentos insistentes que não desistem de me acompanhar.  Quando me encontro a sós, empilho grãos de areia na palma da mão e escrevo seu nome no chão. Mas logo sopra o vento estraga prazer e apaga seu nome que acabei de escrever. Imediatamente, inverto a ampulheta ancorada num vão que não vi e ganho minutos de saudade na prorrogação. Não sei o que faria se não pudesse ficar a sós comigo. Estou certo que no epicentro do turbilhão é impossível ouvir qualquer canção. Sou adepto do diálogo, mas não abro mão do solilóquio. Por tudo isso, no final do dia quando é decretada minha alforria, busco o refúgio da varanda de meus devaneios. Ali eu sou eu por inteiro, poeta despido de tudo que me amarra, artífice de minha própria escultura, que na saudade de ser o que se deseja ser, faz do sonho a sepultura.         

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