domingo, 12 de fevereiro de 2017

POEMA DERRADEIRO


Não lhe escreverei mais
Cansei de enfadá-la com insanas tolices
Avalanches de poesia.

Farei do silêncio
Minha canção de despedida
Meu epitáfio
Meu poema derradeiro.

Talvez amanhã
Caso a veja distraída
Brincando sobre o Arco Íris
Farei da canção desesperada de Neruda
O meu réquiem:

Posso escrever os versos mais tristes esta noite. 
Escrever, por exemplo: " noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta. 
[...] 
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por tê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo

Quando chegar o novo alvorecer
Se o brilho do Sol trouxer
A imagem de seu rosto a minha memória
Fecharei as cortinas das lembranças
E guardarei todos os versos antigos
Como se nunca tivessem sido escritos.

Se ao passear em meu jardim
A delicadeza das flores invocar seu nome
Cerrarei meus olhos para a beleza
Olhando a realidade dos espinhos.

Mas depois de tudo isso,
Se algum desavisado colibri
Ensaiar a dança do amor diante de mim
E a saudade ficar insuportável
Ai meu Zeus!
Poderei até me render
Talvez escreva outros versos
Como tantos outros que já escrevi 

Talvez me refugie novamente em meu oásis
Onde a poesia brota das fendas das rochas
Como fio de água cristalina
Que dessedenta
E rega
E faz remanescer a flor
Dos meus encantamentos.  

Posso escrever os versos mais tristes esta noite. 









https://pt.wikipedia.org/wiki/Pablo_Neruda
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vinte_Poemas_de_Amor_e_uma_Can%C3%A7%C3%A3o_Desesperada

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