sexta-feira, 12 de maio de 2017

ODE A BACO





Meus desejos de poeta

Tem rompantes de rio

Quando transbordam

Escolhem caminhos inusitados

Como versos improvisados.



Na rotina diária

Meu desejo é a calmaria das correntes cristalinas
Que sem pressa vão rolando seixos no perau.


Nesses momentos

Quero a suavidade de brisa

A roçar madeixas

Fazendo bailar as mechas livres

Entregues ao capricho do vento.


Divirto-me brincando de beijar e beijar

Pelo prazer de colher arrepios

Denunciados na pele com pelos eriçados.



Ocupo-me em recitar tolas obscenidades

Com minha boca quase colada aos ouvidos

Usando palavras quentes e sussurros molhados

Cheios de um lirismo idílico

Capaz de violentar a inocência dos fêmeos sentidos.



Nesse ritual dos loucos devaneios

Quero derramar vinho na taça do umbigo

Para fazer ode a Baco.

Ficarei olhando o líquido escorrer

Entre as sendas proibidas

Até eu interceptar o pequeno rio colorido

Com meu beijo atrevido.



Todavia,
Noutros momentos

Meu desejo é como

Rio revolto com sinuosas corredeiras.

Águas que se deslocam

Em redemoinhos sem freios

E vencem os obstáculos das pedras

E se lançam em sucessivas cachoeiras.



Nesses momentos

Sou Ulisses que não resiste ao seu canto de sereia

E rompe as amarras

E se lança ao mar bravio

A fim de escrever

A peripécia de suas loucas aventuras.


No louco enredo, a fêmea sereia imobilizada

Sente a fúria do guerreiro indomado 

Que arrebata o êxtase de sua musa encantada.



Dominada, ela não resiste e insiste

Para que o desejo do poeta não cesse

E seja mágica poesia no verso e no anverso.



Assim, não há tempo para hiatos

E minhas mãos agarram as madeixas

Antes entregues à brisa

E fazem-nas por rédeas

Num galope empírico.



Não me dou por vencido

Até que o grito em sustenido

Complete a rima e o acorde surreal

Do mágico poema experimental.

Evoé Baco!


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