quinta-feira, 29 de junho de 2017

COLHEITA



Viajante de hemisférios oníricos

Amo colher paisagens com os olhos.

Vivo de viver as idílicas delicias

Em eventos de Carpen Diem empíricos.



Acostumado a surfar na cauda de estrelas cadentes,

Não me conformo com slow motion de emoções.

Preciso existir além do cabe em mim
,
Ainda que seja script de pantominas incandescentes.


Sem bússola, sem norte, sem destino

Sem saber das mil possibilidades das insanas travessuras,

Guiado tão somente por meu louco desatino
,
Pousei no paraíso, meu doce pomar de loucuras,



Como meu sexto sentido “não pega” de primeira

Tentei decifrar as regras nas entrelinhas
.
Tudo em vão, pois, não bastasse as nuvens de mistérios,

Restava decifrar os enigmas do deus das vinhas.


Se Eva viu a uva e não a maçã

E pelo fruto ela enlouqueceu

Sei que minha luta será vã

Por causa do fogo roubado por Prometeu.



De repente vejo minha Afrodite surgir resplandescente

Caminhando absorta no meio do pomar
,
Sobre o corpo nu apenas um véu de luz transparente,

Insinuando sua beleza de deusa sem par.



Num átimo, recolho-me intimidado

E ocupo-me à tarefa maravilhosa de contemplar

A deusa caminhando de modo descuidado

Como quem não tem com o quê se preocupar.



De repente ela detém-se a examinar

Alguns cachos de uvas prontos pra colheita
.
Ela os colhe com cuidado, pra não os machucar

E sob a parreira pejada a musa se deita.



Embevecido saio de minha trincheira imaginária

Certo de que a deusa não vai me perceber
.
Tolice minha. As deusas têm sensibilidade extraordinária

E veem limites que os mortais não podem ver.



Pego em flagrante por delito de encantamento

Sou condenado a colher as uvas no corpo da Vênus
.
Réu confesso, cumpro sem queixas meu apenamento

Com a certeza que não quero a liberdade por bônus.


Com calma poética colho uva por uva

E por último retiro o véu de luz
.
Diante de meus olhos a beleza da vulva

E todos os relevos que me seduz.



Algemado pelos grilhões da paixão

Selo com longo e louco beijo minha sentença

Certo que nada, nem ninguém, me livrará da prisão

Que a poesia me condenou de nascença.



sábado, 24 de junho de 2017

DA SAGA DE SER EU




Sou emocionalmente dependente de inspiração

Se me falta lampejos de magia

Falta-me também o elã vital da poesia.

É como se me furtassem o ar

Que preciso para respirar

E eu preciso escrever

Para sobreviver.



Minha saga é ser assim

Escravo da liberdade

Que me algema e me liberta

E me eleva ao olimpo sem eu sair de mim.



Mas nada disso é segredo

Sou réu confesso

Porque não minto nem omito

A realidade de meu degredo.



Na prateleira das incertas certezas

Guardo meu dossiê

Acessível a quem me lê

São páginas e páginas.

De concretas abstrações

Diálogos, monólogos e solilóquios

Relatos sinceros de minhas emoções.



Quando viajo no vão de minhas ilusões

E me abrigo incólume no oásis de meus devaneios

Sou perfeito até nas minhas imperfeições

E te amo inteiro, sem vírgulas, reticências e receios.  

terça-feira, 20 de junho de 2017

POMAR DE LOUCURAS


Meu sonho é sanha insana
Vontade indomável
Misto de mistério e magia
Linda visagem vestida de poesia


Em meu doce pomar de loucuras
Sou vinhateiro seduzido
Pela deusa da beleza
E, embriagado de desejo, sou abduzido


Nesse pomar de deliciosas obscenidades
Frutas e flores se confundem em beleza e sabor
Uvas, pêssegos, jabuticabas, tangerinas, cerejas
Gabirobas, açaí, aqui e acolá e até a maçã amor


Oh, lindo pomar de doçuras!
- Afrodite de meu desassossego -
Sua beleza com cheiro de cio
Me enlouquece


Se um dia no jardim Eva foi vilã
Ao ceder à sedução do amor
Minha luta também será vã
Se eu não resistir a tentação do sabor


Imagino-a vestida de nada
Caminhando alheia no meio do pomar
Cabelos ao vento, tez iluminada
E a beleza dos gomos maduros a me provocar


Sob uma parreira com cachos pejados
Detém-se a deusa distraída sem me perceber
Não sabe ela que imaginação de poeta tem poder
E pode transportá-lo a qualquer local imaginado


Oh, lindo pomar de loucuras!
- Musa de meu desassossego -
Sua beleza com cheiro de cio
Me enlouquece


Enquanto ela alheia, alheia
Vai colhendo tenros cachos de doçura
Eu, alhures, vou fotografando com meus olhos
Sua nudez iluminada de candura.   

A CAMINHO DE ONDE?

De maneira simplista, geralmente, pensamos em caminho referindo a distância, a espaço percorrido ou a percorrer. Sabemos que o horizonte ne...