“Oh,
lindo pomar de doçuras!
-
Afrodite de meu desassossego -
Sua
beleza com cheiro de cio
me
enlouquece.”
Almáquio
Bastos*
De volta ao meu
pomar de loucuras
Faço-me passageiro
do sonho
Em oníricas
travessuras.
No ato da entrega
aos loucos devaneios
Não meço as
consequências
Para saciar minha
sede dos anseios.
Sei que não é por
acaso
Que acontece o ocaso
E que, de igual
forma, não é casual
A aurora boreal.
A flor que amor tece
E ilude na vida
No coração
floresce
Antes de mostrar-se
na lida.
Ser poeta não é
fácil.
Pelo contrário, é
difícil viver no mundo real
Tendo ao alcance
As possibilidades do
universo surreal.
Soma-se a isso o
sexto sentido
E poções mágicas
de fantasias
Essência de desejo
proibido
E lampejos de
poesias.
Foi assim que
caminhando sob parreiras pejadas,
Maravilhado ante
frutos prontos para colheita,
Invoquei Baco já
com preces premeditadas
Pra que Afrodite se
mostrasse, ainda que em silhueta.
Mal minha prece
chegou ao fim
Você, na contraluz,
apareceu pra mim.
__Ai, meu Zeus,
pensei, porque fostes tão cruel
Por causa do fogo
roubado por Prometeu?!
Soubessem os deuses
de minha agonia
Não me teriam dado
o dom da poesia.
Pelos grilhões do
encanto algemado
Esqueci a sina de
Pandora
E quando já estava,
totalmente, dominado
Percebi que a
lucidez tinha ido embora.
Meu pomar tem
cheiros e sabores diversos
Oásis onde licores se misturam se medo
De que a vida que
transcende os versos
Nos puna com os
ritos do degredo.
Tamanha perfeição
e beleza, pensei comigo,
Não pode ser
delírio deste pequeno poeta sonhador.
Ainda que Baco me
tivesse por inimigo
Não me iludiria com
tamanho esplendor.
*
Bastos, Almáquio. In
Pomar de Loucuras,
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