domingo, 31 de dezembro de 2017

BODAS DE CORAL





            Muitos são os planos no coração do homem;
Mas o desígnio do senhor esse prevalecerá
Prov. 19:21
Pois eu bem sei os planos que estou
Projetando para vós, diz  Senhor; planos de paz e não de mal, para vos dar
Um futuro e uma esperança.
Jer. 29:11


35 anos se passaram
Mas parece que foi ontem.
Lembro-me vivamente
Quando ali estávamos
Na varanda de nossos sonhos
Cheios de sabedoria juvenil
Arquitetando, a dois, projetos mil.

Naquela época minhas cãs
Eram inimagináveis
E eu nada sabia do futuro desejado
Mas carregava a certeza que minha poesia
Sem o brilho dos seus olhos
Não sobreviveria.



Ah, minha bela cigana!
Como amo lembrar as tantas vezes
- Mesmo nos revezes -
Em que estivemos a contemplar estrelas
Na companhia de Neruda
E riamos juntos
Construindo castelos 
E riamos dos castelos e riamos dos risos
Sem saber, ao certo, que tudo seria
Alicerce para o nosso futuro.







Não tínhamos acesso a celular,
Nem a internet, carro então?
Nem pensar.

Na distância de você Neruda me socorria
Quando eu não lhe mandava versos meus
Enviava algum que ele escrevia
E era no seu silêncio de estrela
Que se manifestava o poder da poesia.

Nos reencontros
Às vezes de surpresa
Eu chegava carregando rosas amarelas
Que você amava
E eu me encantava ao ver seu alegre espanto
E a festa que seu olhar fazia.  


Para celebrar nossas bodas de coral
Convidei Neruda novamente
Leiamos juntos, outra vez, este poeta imortal
E façamos um brinde àquele nosso futuro que virou presente.




                                                                      (Foto: Anna Botelho)




Gosto quando te calas
                              
Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.
 
( Pablo Neruda )




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