Carta ao Professor
por Ricardo Azevedo.
Somos condicionados, pela cultura utilitária que nos rodeia e sufoca, a acreditar que tudo tem uma função. Trata-se de uma crença equivocada e desumana. As coisas mais importantes da vida costumam ser justamente aquelas sobre as quais não cabe falar em função. Qual a função da amizade? Qual a função do sublime? Qual a função da saudade? Qual a função da vida?
Embora não faça sentido falar em “função” da literatura de ficção e poesia, sua importância é indiscutível:
1. Através da literatura entramos em contato com temas humanos complexos, ausentes dos livros utilitários, mas essenciais: a paixão, a busca do autoconhecimento, a angústia, a luta do velho contra o novo, o ciúme, a confusão entre a realidade e a fantasia, a mentira, a existência de diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto etc.
2. Narrativas construídas acumulativamente, com começo, meio e fim, podem nos ensinar a elaborar o processo, portanto, o sentido de nossa própria vida. Para Varga Llosa a ficção “...goza daquilo que a vida vivida – em sua vertiginosa complexidade e imprevisibilidade – sempre carece: uma ordem, uma coerência, uma perspectiva, um tempo fechado que permite determinar a hierarquia das coisas e dos fatos, o valor das pessoas, os efeitos e as causas, os vínculos entre ações.”
3. A literatura, principalmente através da poesia, possibilita o contato direto com o discurso subjetivo. Compare o texto didático e impessoal “ A água ferve a 100º com “uma parte de mim/ é todo mundo/ Outra parte é ninguém/ fundo sem fundo/ uma parte de mim/ é multidão/ outra parte estranheza/ solidão(...)” *
4. Pode trazer personagens paradoxais, por vezes incoerentes, mergulhadas num constante processo de amadurecimento, lutando para construir o significado da própria vida ( e evitar a visão idealizada do homem, ou seja, sua apresentação com um ser esquemático, lógico e previsível, sem conflitos e sem humanidade).
A literatura tem outras ótimas qualidades, mas o espaço é curto. O contato com temas da vida concreta e com vozes diferentes das nossas pode, por meio da identificação, construir um extraordinário recurso de humanização e sociabilização. Em tempos de consumismo sem limites, individualismo doentio e coisificação do homem – com efeitos nefastos numa sociedade desequilibrada como a nossa – a leitura de ficção e poesia pode ter um papel regenerador e insubstituível.
“Traduzir-se” de Ferreira Gullar, Toda Poesia, Rio de Janeiro, José Olimpio, 1991
Ricardo Azevedo é escritor, ilustrador e pesquisador. É autor, entre outros, do premiado livro Um Homem no Sótão (Ed. Ática, 2004) www.cartanaescola.com.br
Olá, td bm; continue sonhando e escrevendo, e representando a classe da Polícia Civil; também sou escritor e poeta, e policial civil aposentado. Visite o meu blog: alonso.pimentel.zip.net. Um abraço.
ResponderExcluiraf, nao da pra mim imprimir isso, preciso fazer um trabalho
ResponderExcluiradoro ler, mas odeio escrever sobre literatura
ResponderExcluirMuito bm a percpção!
ResponderExcluircontinui escrevendo sobre a literatura
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