Quando estou só,
Aproveito a oportunidade para me encontrar.
Entendo que em solilóquios
Engendro mais facilmente a arquitetura ideal de meu shangri-La.
Agora mesmo, nesta noite de inicio de outono,
Sentado em minha cadeira de balanço,
Na varanda de minhas elucubrações,
Passo o tempo vigiando estrelas,
Longa mente,
Como quem espera, resignado, assistir ao espetáculo luminoso,
De alguma estrela cadente, em momento de petições.
Assim, ocupado
Com a tessitura de meus sonhos
Feitos com retalhos de acordes imaginários,
Passeio em meu jardim de orquídeas e de lírios,
Colhendo os reflexos do brilho estelar, esparramados em meu
quintal.
Por isso sou poeta. Faço do ócio um ofício.
Mas não sou homem de me esconder entre segredos e meias
palavras.
Mesmo quando estou manietado pela solidão,
Ou quando estou surfando sobre as asas de um trovão,
Verbalizo sem rodeios os versos e anversos de meus anseios.
Quanto a você que agora me lê, um alerta:
Nunca tente desvendar a lógica da poesia.
Se quer sentir na pele o suave fremir provocado
Pelos arrulhos da minha alma ave de arribação,
Livre-se de suas algemas,
Dispa-se dos conceitos fossilizados,
Vista-se de nudez de pensamentos,
E se entregue ao salto sem vendas e sem asas
No cânion de seus desejos inconfessáveis.
Às vezes, é na grande fenda de falésias metafísicas
Que se formam os ninhos do pássaro encantado que procuramos.
Só assim, lançando-se ao abissal universo das possibilidades,
Você será capaz de ouvir a ruidosa alegria
Das metáforas em festa de alforria,
Após longo cárcere nos porões da imaginação.
Por tudo isso
E pelo brilho das estrelas que seus olhos, atônitos, colherá,
Valerá a pena a coragem de ousar.
Para mim, a validação da ousadia se consuma
(No ato do nascimento da poiesis,
que abandonada entre entulhos,
Esquecida, há muito, no amontoado de frustrações guardadas
Nos escaninhos da memória),
quando o eu lírico consegue se libertar.
Alforriada a alma inquieta,
Toda fantasia volta à vida real e,
No contexto, o texto vai se formando,
Sílaba a sílaba,
Palavra a palavra,
Verso a verso,
Por fim, o poema gestado,
- Significado e significante -
Se exibe no corpo do signo magnificado.
Neste momento,
Sopram os deuses o fôlego da magia.
Eis a poiesis! Eis a poesia!
Poema iniciado na noite outonal de 21 de março de 2016 e concluído na noite do dia 23, seguinte, às 23:29horas. Hora da postagem.
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