quarta-feira, 15 de junho de 2016

BOLERO DE RAVEL





Há muito aprendi ler seus pensamentos
E sei o que sente ou deseja muito antes de você falar.
Agora, por exemplo, sei que ao ler este início de poema,
Você vai disfarçar um sorriso malicioso
E guardar, em silêncio, uma vontade de me dizer
Ao pé do ouvido: “safadinho!” para ninguém escutar.

__Não adiante negar.
__Outra coisa:

Na penumbra do quarto,
Quando seu corpo nu, sobre a cama, em claro sinal de rendição,
Está ao alcance de minha boca,
Sei que você vai fechar os olhos,
Mas seus pelos eriçados e seus lábios intumescidos
Denunciarão que você amou, de véspera,
A agonia deliciosa da espera do beijo.

Sei ainda que quando você sentir
A força metafórica de meu poema  
Penetrar seu universo metalinguístico,  
Você vai ouvir bolero de Ravel
Num crescente contínuo,
De tal forma que, 
Quem nunca ouviu jamais vai entender
E quem já ouviu nunca vai conseguir explicar.

Sei de tudo isso
Porque poeta é meio bruxo.


Por fim, sei que no texto e no contexto,
Após me ler e reler diversas vezes,
Você vai querer caminhar nua e descalça
Sobre os rastros de luz das estrelas,
Esparramados no leito da imaginação,
Sem se importar se o amanhã é uma segunda-feira.

É assim que é.
Sou poeta. 
Eu sei.

2 comentários:

  1. A musicalidade do amor da partitura à imaginação do poeta. Ou será a veracidade do amor horizontal em acordes musicais. Muito mano poeta

    ResponderExcluir

VOLTANDO A FALAR DE SONHO

Sonho é matéria invisível Igual carícia de vento Pode ser lembrança vivida Ou coisas que invento. Quando meu coração Acorda sorrindo E diz...