Nesta noite de
outubro
Em horário de verão primaveril
Aqui estou
Tentando rascunhar ideias coloridas
Nas brancas páginas de minhas elucubrações.
No escopo de mil
pensamentos,
Diagramas confusos
São projetados por um data show
Fora do meu controle e
No vai e vem de
minhas inúteis tentativas
Flashes de lembranças e devaneios
Insistem em piscar
In-ter-mi-tem-te-men-te
Me enchendo de porquês
Que não sei responder.
Como esquecer a
mágica alegria
Sentida ao lambuzar minha boca
Com o sumo da
amora madura
Colhida às escondidas
No canteiro das
travessuras inconfessáveis?
O que dizer do
sabor da uva
E sua delicada tez de vulva
tenra e túmida em sua beleza única
Que existe
somente
No doce pomar de loucuras?
Como ignorar a
dança das labaredas
E suas ígneas línguas
Lambendo paredes metafísicas
Na alcova do poeta no exílio?
Como não invocar
o encanto
Do oásis de meus
delírios,
Shangri-lá de metáforas ululantes
Fonte de êxtase
e prazeres ruidosos,
Onde Sol e brisa fazem minha alforria?
Impossível
esquecer
A beleza misteriosa da madrepérola
Nascida na
concha de Afrodite.
Sei que na cona
de Vênus
Repousa a belíssima joia de alto relevo
Hipocentro dos abalos sísmicos
Que move a humanidade
e é ali
que Zeus ocultou segredos
Indispensáveis à poesia.
Entretanto estou
aqui
Preso ao
desespero da busca do texto
Não fosse o
poder ilimitado da imaginação
Estaria desterrado
e atado ao totem da desilusão
Escravo do rito
de remover ruínas
Seria carrasco de mim mesmo
destinado ao ócio de colher os segundos
Vazados da
ampulheta da solidão
E sequer as mandrágoras
Nascidas sob o cadafalso da saudade
Trariam um átimo de emoção.