Tira-me
o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.
Pablo
Neruda
Não preciso fazer mistério
Para dizer que te quero.
Ainda que fosses um sonho
sonhado em meu exílio
Ou uma ilusão na dura
realidade da lida
Ou então uma miragem fruto do
meu pomar de loucuras
A simples contemplação do
brilho de teu sorriso
Elevar-me-ia aos píncaros, às
alturas.
Bem sei que o Olimpo é
paraíso distante
E que este o poeta vive no
universo de mortais
Também sei que Ulisses quase
enlouqueceu
Simplesmente ao ouvir o canto da sereia
Mesmo assim vou escrevendo
minha saga de Odisseu.
Na ânsia de querer-te
Perco-me em maravilhoso
desatino.
Num instante, sou veleiro aos
revezes do vento
Poeta singrando sonhos à
deriva, ao relento
Homem velho vivendo
travessuras de menino.
Mostra-me teu riso, peço-te,
Refletido nas faíscas de sol das manhãs
A estética do encantamento e
desejo
Se desenha a partir de um simples
lampejo.
Não fossem minhas humanas
limitações
Visitaria o Olimpo de surpresa
E sem dar satisfação de
minhas intenções
Faria de ti a mais linda
presa.
Assim sendo, refém de
paradoxal sentimento
Consultei meus oráculos,
falei de meu desejo
E sem medo de tristeza e
arrependimento
Prometi escrever poemas em
troca do lampejo.
Não preciso fazer mistério
Para dizer que te quero.
Ao abrir as comportas da minha
imaginação
Fiz-me avalanche de
ilusões, redemoinho
sem freios
Soubesses a intensidade de
minha emoção
Não me torturarias com teus
rodeios.
Quiçá fossem as deusas por
Zeus castigadas
Sempre que provocassem tamanha agonia
Por capricho, elas revelam-se lindas
e desejadas
Mas não se permitem além da
fantasia.
Mostra-me teus lábios,
peço-te mais uma vez,
Ainda que num flash na penumbra do ocaso
Às vezes os grandes sorrisos
só se revelam
Longe de indiscretos olhares ao acaso.
Se na intimidade é mais fácil
acontecer a magia
E na penumbra o mito não
mente
Acenda-se, então, somente o clarão da
poesia
Sob a benção da nua lua
silente.
Não preciso fazer mistério
Para dizer que te quero.
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