quarta-feira, 13 de julho de 2016

INSÔNIA II (ou simplesmente, REALIDADE VIRTUAL)



Novamente o interruptor do sono emperrou,
Mas desta feita não me dobrei ante ao agônico martírio
Provocado pelo tropel do exército de angústias
Eivados pelas cotidianas preocupações.

Num exorcismo solitário e silencioso,
Expulsei do quarto os zumbis, assombrações,
Boletos bancários, compromissos chatos pré-agendados,
Toda sorte de fantasmas.

Decidi não permitir que minha mente encarrilhasse
Palavras poéticas sobre trilhos de insana lucidez.

Ato contínuo,
Invoquei belas ninfas do olimpo,
Convidei Penélope, esposa de Odisseu
E as sereias que o seduziram.

Não me esqueci de chamar a fogosa Madame Emma Bovary,
E não deixaria de fora a Machadiana musa da dúvida, Capitu.

Na minha Pasárgada, sou o próprio rei.
Mas o lento gotejar de minha noite insone
Deixaram as convivas entediadas
E uma a uma, todas resolveram me abandonar.

Novamente só, de volta à metafísica trincheira que abriga poetas
desterrados de si mesmos, num lampejo, vi alhures um vulto seu.

No lusco-fusco,
Abracei-me aos feixes de luz
Fixados na linha limítrofe do delírio e realidade,
Encantado ante sua holográfica nudez.

Só de imaginá-la
no panties
O sol voltou a brilhar em meu oásis. 

sábado, 9 de julho de 2016

INSONIA




É noite.
Desliguei a luz.
E agora, o que faço para desligar-me
Se o interruptor do sono deu pane?

O Eco do tic-tac em meu relógio imaginário
Não me deixa ser digital
E, no escuro, sinto a noite gotejando
 Longos minutos sobre minha cabeça inquieta.

O que fazer com essa multidão
De pensamentos marchando em volta de minha cama?
Fosse fácil fazer mágica,
Ligaria a luz e, num ato
( zupt!)
Tudo estaria em silencio novamente.

Mas as coisas não são simples assim
Quando a vertente de ideias
Não respeita os limites ideais
E o exército ruidoso não desiste
Enquanto a mente, em ebulição, insiste.

Não me viesse este texto, assim, tão avalanche,
Eu apenas viraria de lado
E ficaria quietinho,
De olhos fechados,
Esperando o tropel passar.

Mas, vencido pela sequencia monótona
Da ampulheta metafísica,
Exito apenas  entre pegar papel e caneta
Ou ir para o computador.
Só não posso perder tempo
Porque os versos já prontos, de memória,
São voláteis e precisam se materializar.

Há pessoas que, às vezes, me perguntam
O que me inspira ao escrever um poema.

Poesia é ato empírico.
O poema nem sempre é resultado
De inspiração, beleza ou calmaria.
 Não poucos resultam da transpiração, batalha,  dor e agonia. 

terça-feira, 5 de julho de 2016

PROJETO DE POEMA




Nesta noite, quero escrever um poema matinal que fale de
Sol, sonhos, segredos, sensibilidade,
Sem saber se serei segredado.

Um poema em que seja como o abrir de uma janela
Aos primeiros fachos se luz,
Quando a madorra ainda impede que braços abracem
 a novidade do dia e o brilho que seduz.

Um poema que seja verdadeiro em sua virtualidade
E virtual na plataforma da verdade.

Um poema em que os mistérios do impublicável
Seja combustível para a magia
E a alegoria lenha para alimentar a fogueira da fantasia.

Um poema com letras que digam muito sem nada falar,
Que seja singular no sentido plural do encantamento
E plural na singularidade no modo de encantar.

Poema que fale de oásis e devaneio
E eleva o poeta ao único local onde ele é pleno, inteiro,
Porque ali se alimenta da seiva que sustenta o esteio.

Mactub! 
Agora vou dormir, é noite,
 Mas espero que quando a alvorada chegar,
Este projeto de poema
Seja pássaro a cantar na janela de quem se permitiu humanizar.  


sábado, 2 de julho de 2016

AROMA DE ALECRIM




Amanheceu em meu quintal
E hoje é sábado de sol sem plantão,
Dia de folga.
Que maravilha!

Devagar a luz dourada vai tingindo de brilho
As folhas das plantas
E percebo um tenro broto de orquídea
Rompendo em promessa de beleza abraçada ao tronco do abacateiro.


Do outro lado, a alegria dos pássaros
Fazendo algazarra, 
No pejado limoeiro
Ou  nos galhos de romã,
Roubam minha atenção. 

Com uma xícara de café quentinho na mão,
Vou até a hortinha, ao lado do canil, 
Onde o viçoso alecrim
Exala um aroma de bom dia,
Difícil de explicar.

Amanheceu em meu quintal, 
Sobre as plantas e animais
E é sábado,
Véspera de domingo.

Isso me faz lembrar os domingos de minha infância,
Na casa de meus pais,
Único dia da semana
Em que comíamos frango
Ao molho de açafrão
Feito por minha mãe.

A lembrança daqueles sábados e domingos
Surgiu num átimo de tempo, de repente, 
Como um eco emergido de um passado distante
Esquecido naqueles quintais de minha infância.

Talvez amanhã, num outro sábado qualquer,
Eu vá me lembrar de hoje, desta manhã de poesia e reflexão.

Se por alguma razão eu não puder me lembrar,
Pode ser que alguém se lembre por mim
Ou se lembre de mim,
E a saudade surja sem explicação,
Como o aroma de alecrim.   

A CAMINHO DE ONDE?

De maneira simplista, geralmente, pensamos em caminho referindo a distância, a espaço percorrido ou a percorrer. Sabemos que o horizonte ne...