Há muito aprendi ler seus pensamentos
E sei o que sente ou deseja muito antes de você falar.
Agora, por exemplo, sei que ao ler este início de poema,
Você vai disfarçar um sorriso malicioso
E guardar, em silêncio, uma vontade de me dizer
Ao pé do ouvido: “safadinho!” para ninguém escutar.
__Não adiante negar.
__Outra coisa:
Na penumbra do quarto,
Quando seu corpo nu, sobre a cama, em claro sinal de
rendição,
Está ao alcance de minha boca,
Sei que você vai fechar os olhos,
Mas seus pelos eriçados e seus lábios intumescidos
Denunciarão que você amou, de véspera,
A agonia deliciosa da espera do beijo.
Sei ainda que quando você sentir
A força metafórica de meu poema
Penetrar seu universo metalinguístico,
Você vai ouvir bolero de Ravel
Num crescente contínuo,
De tal forma que,
Quem nunca ouviu jamais vai entender
E quem já ouviu nunca vai conseguir explicar.
Sei de tudo isso
Porque poeta é meio bruxo.
Por fim, sei que no texto e no contexto,
Após me ler e reler diversas vezes,
Você vai querer caminhar nua e descalça
Sobre os rastros de luz das estrelas,
Esparramados no leito da imaginação,
Sem se importar se o amanhã é uma segunda-feira.
É assim que é.
Sou poeta.
Eu sei.