terça-feira, 31 de janeiro de 2017

TRINTAEUMDEJANEIRO



Observo os grãos de areia sendo
Tragados pelo gargalo da ampulheta
E frio silêncio, nada metafórico,
Abate-me feito um morteiro.

Bem sei que o agora
É a única certeza existente,
Mas a simples expectativa do amanhã
Presenteia-me com uma estrela cadente.

Inclino minha fronte 
Numa oração monossilábica
E faço do poema minha prece. 

domingo, 29 de janeiro de 2017

DO OFÍCIO DE POETIZAR



Dias atrás, fiquei de mal com a poesia.
Prometi para mim mesmo:
Metapoema nunca mais.

Outrora também prometi
Não mais fazer odes aos prazeres,
Não viajar em insanos delírios
Não falar dos Licores da carne*.

Como não sou rei
Dei minha palavra
E voltei atrás.

O ofício de poetizar
É muito mais do que o ato de escrever.
Antes de tudo, a sensibilidade
Verve do sentir ou perceber.

Sei que mesma lente que foca a beleza
E todas as nuances da alegria
Também é capaz de fotografar a tristeza
E todas as faces da agonia.

Não é difícil olhar o horizonte
E ver nuvens negras em alto mar
No meio da névoa o barqueiro Caronte
E as almas do inferno a prantear.

Não é fácil o ofício da poesia
Bom seria viver para cantar
Tecer odes para a musa todo dia
Sem os agouros dos dias vislumbrar.

Por isso meu desterro é meu oásis
Lá tenho por arma minha lira
Meu canto não é pranto
E a evocação à musa me inspira. 

*LICORES DA CARNE, Galli Ubirajara. http://www.ubebr.com.br/post/atuais/ubirajara-galli


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Poema sobre sombras e silhueta Na arte de se monstrar.





A arte de se mostrar
Não pode ser vulgar
Exige um quê de dramatização
Mistura de mito e mistério
Pantomina da emoção.

A arte de exibir e ocultar
Principia na escolha da lingerie
Cor e textura
Com sabor de travessura.

Importante não subestimar
A expertise do voyeur
Se for poeta então,
Nem pensar.
Poetas tem olhos de Lince,
Já disse outra vez,
Veem muito além
De onde se pode enxergar.

Rendas, transparências, possibilidade.
Feixes de luz, delicada silhueta
Com olhos de fotógrafo e fina sensibilidade
Olhar a sombra vendo a rima perfeita.

Na arte de espiar sou mestre
Mas o segredo da caixa de Pandora
E da rima perfeita não vou revelar
Cada um descubra por si.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

ODISSÉIA TUPINIQUIM


A urgência dos dias
É fato incontestável
A cada nascer do sol
A ampulheta, relógio do tempo,
Obriga-nos a colher
Abrolhos ou ambrosias,
Mas nem sempre é possível escolher.

Assim sendo, mal concluo um poema,
Já pergunto para mim mesmo:
Quando será o próximo?
É como se a realidade
Fosse fardo
E a poesia, liberdade.

Viver sob os desígnios do dever
É vaticínio difícil de suportar.
Por isso fujo
Seja nos braços de Morfeu
Ou embriagado de metáforas
Na saga de Odisseu.

Quero o calor do
Corpo de Penélope
E para isso meu arco
Vou retesar.
Sou refém do encantamento
Sei singrar mares bravios
Mas amo ancorar.

Se a musa me espera,
Nada me desespera.
Enfrento tempestades, furacões
E venço o mar.
Para mim, a poesia não faria sentido
Se eu não pudesse me encantar.

Sou ambíguo, sei, mas sou valente.
Amo o porto mas amo o mar.
Transito com leveza entre o real o imaginário
Colhendo flor de concreto em orquidário.
Na minha Odisséia
De poeta Chinfrim
Retornar a Ítaca
É meu desejo maior.

Lá não sou amigo do rei
Porque Eu sou o rei
E tenho a mulher dos sonhos
Na cama que escolherei.

Então reconhecerei 
O corpo de Penélope
Pela beleza da flor
E o sabor do tempero.
Por isso o encantamento com a musa
Que me faz paranormal.
Sem deixar de ser homem comum
Ela faz de mim ser transcendental.



 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO *





Meu ofício não é fácil,
Mas ser poeta é minha sina.
Tenho instinto de cavalo selvagem,
Galopar nu, sem arreios, me fascina.

No árduo exercício de ser quem sou
Sei que o talvez é a única certeza.
O vão entre o real ao imaginário
É águas profundas, dúbia correnteza.

Na dúvida, opto por ser visionário
Na certeza, viajo com o pé no freio. 

Por isso, não escondo minha alegria
Ao degredar-me em meu oásis de fantasias
Onde minha Bandeira é ser amigo do rei,
Hóspede na Pasárgada para onde fugirei.

Do conforto do meu travesseiro,
No átimo de um segundo
Voo para um paraíso distante.
Na vida real sou apenas forasteiro.

Na ânsia de levitar, viajando fora de mim
Em um dia de verão
Pousei em uma floresta encantada
Onde a seiva da mágica flor me enfeitiçou

Nem fadas, nem elfos, conseguiram me dissuadir.
Ao contemplar a beleza da Ninfa,
deusa que habita lagos e florestas da natureza,
Quedei-me em transe, sem forças para fugir.

Shakespeare tinha razão,
O poder mágico da seiva da flor
Não é mito, não é ilusão.
Como não encantar-se  ante o poder do amor? 







** A Midsummer Night's Dream (br/pt: Sonho de uma Noite de Verão) é uma peça teatral da autoria de William Shakespeare, uma comédia escrita em meados da década de 1590. Pensa-se que Shakespeare tenha escrito o "Sonho de uma noite de verão" sensivelmente ao mesmo tempo que o Romeu e Julieta e, de facto, existem muitos pontos de contacto entre as histórias: Egeu quer casar Hérmia à força com Demétrio, assim como Píramo e Tisbe acabam mortos por questões de amor, ainda que numa perspectiva cômica.


Fotografia : http://inovacult.com/girls/ninfa-karen-ribas/

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

AUTO RETRATO II


Estou apaixonado por fotografia
Mas sei que em auto retrato
Meu melhor ângulo
É atrás das palavras.

Sei que no face
É mais fácil mostrar a face,
Mas também sei que
A vida não acontece
Em fotos três por quatro.

É certo que na fotografia
Luz natural tem efeito plural, 
Mas também é certo que
Nem em luz difusa
Beleza e feiura
É boa mistura. 

Não gosto do meu perfil,
Não gosto do meu frontal
Prefiro as rimas irreverentes,
Porque na poesia meu nu é natural.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

FLOR DE VERÃO





O que diria um beija-flor
Se no verão não tivesse a quem beijar?
Nem só de primaveras
Sobrevivem os amantes das flores.

Quando penso em verão
Lembro-me de sol e a magia que produz
Ao reluzir num espelho d'água
Belíssima silhueta na contraluz.

No encanto dos reflexos
O paradoxo da beleza:
Viagem real em meu imaginário.

Vernissage de magia e delicadeza
Inspirada na vulva das flores
Que vislumbro em meu orquidário.







segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

PoemaApimentado



Livres  como cavalos  selvagens
Meus pensamentos galopantes
Passeiam paisagens distantes.

Voyeur por natureza,
Amo garimpar palavras
Para poematizar  encantos.

Saibam os que me leem
Que poetas não são seres normais.
Tem “olhos de Lince”(*)
E asas surreais.

Empiricamente,
A poesia não mente.

Em minhas vadias viagens, repletas de miragens,
Navego nas redes sociais
Folheando, sem pressa, álbuns pessoais.

Noutro dia, sobrevoando uma praia qualquer,
Contemplei seu corpo banhado de sol:
Na textura do biquíni a sombra da imagem perfeita.
Impossível não imaginar a formosura da silhueta.

Investido de poderes poéticos
Vislumbro a musa completamente nua
Assim como, nas noites de verão, vejo a lua
Bela, cúmplice e testemunha.

No corpo da fotografia vislumbrada
Vejo Vênus e viajo na ilusão desenhada.
Nada relevo nos detalhes do lindo relevo.
Escultura difícil de explicar.

Embevecido nesse passeio virtual
Reverencio a exuberância dos belíssimos lábios:
Perfeito entalhe se orvalha de desejo
Ao pressentir a iminência do beijo.

Simples assim, por isso escrevo:
Ai de mim, poeta tupiniquim.

Que no mundo real
Faz-se um Odisseu
Que ao ouvir o canto das sereias
Endoideceu.

Ser poeta é isto:
Mestre gourmet
Que se esmera em temperar

A loucura, o encanto e o amar. 


(*) OLHOS DE LINCE.
Ter "olhos de lince" significa tem uma visão apuradíssima. No entanto, a origem desta expressão não vem da comparação com o felino, mas vem da mitologia grega.

              De acordo com a lenda, Linceu foi o piloto da expedição dos "argonautas", grupo composto por 56 heróis da mitologia grega, embarcaram no navio Argo para conquistar o Tosão de Ouro (a lã de ouro do carneiro alado Crisómalo). Linceu tinha uma visão tão boa que podia ver através de paredes de pedra para verificar a existência de potenciais tesouros escondidos. Outros afirmavam também que Linceu tinha uma visão tão fantástica que conseguia ver o que acontecia no céu e no inferno. Em uma ocasião específica, conseguiu contar de uma só vez e a uma distância de mais de duzentos quilômetros, o número de barcos de uma frota de guerra que tinha saído de Cartago. Assim, quem tinha uma visão muito boa, tinha "olhos de Linceu". Posteriormente houve a confusão entre Linceu e lince, e na linguagem popular a expressão passou a ser "olhos de lince".

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Ode à Beleza III




Basta-me a expectativa da contemplação para que
Uma força erga meus músculos, misteriosa mente.
Certo que a poesia é necessária à exaltação da beleza
Escrevo teu nome no corpo do verso e encerro a
Trilogia, mas não a magia do encantamento, tampouco
A alegria de poetizar. Quem entender verá. 






 
http://fotoratinho.blogspot.com.br/2008_04_01_archive.html






quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Ode à Beleza II



Prometi escrever-te novo poema
Cada vez que minha memória
Sussurrasse teu nome
Aos meus ouvidos.

Menti.

Descobri que seria Impossível escrever tantos versos.

Diariamente, no silêncio das sinapses
Vou colhendo relâmpagos
Que iluminam o belíssimo entalhe
E exibem a fêmea beleza
Rica em detalhes
Que revelam a maestria do artífice.

Não raras vezes me encontro
Perdidamente encantado
Na imaginária contemplação
Embevecido ante o quadro
Pintado em alto relevo
Que minha mente poética fotografou.

Na beleza imaginada
Amo olhar o par de gomos
 Maduros de desejo
Molhados pelo visgo
 Do sumo brotado entremeio.







A CAMINHO DE ONDE?

De maneira simplista, geralmente, pensamos em caminho referindo a distância, a espaço percorrido ou a percorrer. Sabemos que o horizonte ne...